quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Eu e os meus vizinhos


Dedico o que escrevo hoje aos meus vizinhos virtuais da Sanzalangola que sentem o que eu sinto, viveram o que eu vivi, pessoas especiais com quem me divirto e em que confio.

Deu-me para escrever ( ) desculpem o atrevimento... mas hoje vou falar um pouco sobre mim.

Nas festas quando era jovem nunca fui a mais animada nem a que era ansiosamente esperada pelos rapazes, não por ser horrível ou mal feita, mas porque era tímida e muito envergonhada (só me libertava dessa timidez quando a minha amiga Luísa, ela sim...simpática sorridente e destravada me arrastava e me transformava) às vezes nas festas nem reparava que me estavam a convidar para dançar, então os rapazes pensavam que eu estava a gozar com eles  a dar tampa de forma dissimulada e não me voltavam a convidar ( Ai!...Pobre de mim que nem fazia por mal) normalmente só dançava com quem me conhecia e vinha falar comigo. Muitas vezes, enquanto ficava no meu canto (e ainda hoje faço isso) aproveitava para analisar as pessoas e os seus comportamentos ( alguma coisa tinha que fazer... ) dessa forma aprendi a conhecer as pessoas pela forma de agir em momentos descontraídos. Mas sempre fui amiga dos meus amigos e sei até que fui boa vizinha,
No meu bairro “Tuga”, hoje em dia, não sou a vizinha mais simpática que fica a falar sobre a vida dos filhos, dos netos do tempo... e principalmente das outras vizinhas, não gosto de falar da vida dos outros e raramente falo da minha. Isto tudo para dizer que não tenho a mania que sou boa pessoa nem faço de conta que sou... sei que há bem melhor e também pior...e como ainda hoje tenho o hábito de analisar comportamentos posso dizer que ainda há muita gente por estas bandas a ter aquela atitude de pisar no pé de alguém de propósito e depois fazer um ar inocente e dizer: "«Ai, desculpe não reparei no seu pé" Foi assim, dessa forma cínica que nos trataram quando chegamos a Portugal Continental, vindos contrariados, vazios e tristes de um Portugal que era Portugal mas que infelizmente era Ultramarino e talvez por isso nos tornamos um pouco desconfiados, talvez por isso sempre fomos incompreendidos e até hoje criticados, talvez por isso também todos temos cá o corpo mas o nosso coração estará eternamente lá...

Neste bairro virtual e animado, gosto de dançar.
Neste bairro tão verdadeiro, gosto de passear.
Neste bairro quente de gente que luta, gosto de rir.
Neste bairro de céu azul, gosto de partilhar uma pararuca.
Neste bairro de sonhadores, gosto de conversar, porque:
Quando saí de Luanda, nos campos de algodão, aluguei um quarto à tristeza,
Na plantação de cana de açúcar, fiz um baú para as recordações,
Nas praias quentes, lancei ao mar, pirogas de saudade,
No vermelho grão de café, inventei sonhos.
E quando um dia, vos encontrei na Sanzala, voltei a casa de uma forma muito doce.
Vocês são os vizinhos a quem gosto de dizer bom dia, até logo e com quem quero conversar ao fim do dia.
Vocês são os vizinhos com quem gosto de fazer sonhos, partilhar recordações, construir alegrias ou apenas olhar a lua.



1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei!As palavras fogem-me porque revivi um pouco esse passado distante, longe da nossa mãe Luanda!Correram algumas lágrimas, não me envergonho de dizer, porque não é fácil deixar tão distante essa mãe que nos viu nascer e crescer! Simplesmente digo:Adorei o que escreveu, porque senti k foi seu coração k ditou esse sentimento!