quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A professora doente, o mercado indígena, a negra da lata, o musseque e a cubata da Joana



A professora do último tempo tinha faltado porque estava doente por isso, saí das aulas uma hora mais cedo. Estava calor, um calor húmido que me colava a bata às costas e ao peito mas mesmo assim resolvi ir a pé para casa. Com a cara levemente corada, pela ideia da aventura e com a pasta da escola ao ombro atravessei a rua e comecei a percorrer o longo caminho, lentamente saboreando cada momento. À minha frente caminhava um grupo de raparigas do meu liceu que riam até das moscas que viam passar, sem querer acabei por rir do riso delas. Quando passei perto do “Jumbo” o enorme e único supermercado que me fascinava porque vendia tudo, lembrei-me dos soutiens lindos de morrer que tinha visto lá dentro na semana anterior, tinham alças cruzadas e eram de várias cores, já tinha decidido que ia comprar um amarelo mas naquele momento não tinha dinheiro suficiente para a compra, por isso não entrei, continuei o meu caminho e depressa cheguei ao mercado indígena que apesar de estar quase vazio de compradores ainda era um mundo de confusão de galinhas, quiabos em montinhos em grande equilíbrio em cima da bancada, bananas pequenas em grandes cachos, sacos de fuba, peixe seco e milhares de moscas. O som cantante do quimbundo misturado com português embalou-me até ao fim do mercado onde estava o que eu procurava. De cócoras estava uma velha negra de panos, ao seu lado direito, em cima de uma fogueira fumegava uma lata que em tempos tivera azeite e que por tantas vezes ser usada estava preta, pousada no chão, à sua frente tinha uma caixa de madeira onde cuidadosamente e de uma forma quase requintada estavam colocados pequenos pedaços de papel vegetal onde ela deitava um preparado de açúcar em caramelo com ginguba, uma receita deliciosamente tentadora, tão tentadora que a lata preta era apenas um pormenor insignificante. Comprei duas doses e fui embora bem devagar enquanto me regalava com aquele banquete ao mesmo tempo que ia pisando a terra macia do musseque levantando com os pés aquela poeira vermelha que enfeitava o ar e depois caia suavemente em cima do capim e das mandioqueiras ou salpicava as cacimbas como canela num bolo. Atravessei o musseque e só parei em frente à cubata da Joana para beber água. A Joana tinha sido em tempos nossa lavadeira e gostava muito de mim porque eu adorava falar com ela. Quando passava perto da cubata dela, convidava-me sempre para entrar e eu entrava sempre sem me fazer rogada. Gostava da cubata dela de chão de terra batida, tão batida que se podia varrer, de paredes de canas forradas a barro seco, tão seco como tijolo. A cubata era fresca e não sei porquê agradava-me olhar para as cortinas que me faziam lembrar vestidos coloridos pendurados nas paredes. Bebi água despedi-me da Joana e dos filhos e parti para a última etapa da minha aventura, entrei na rua principal do Bairro Popular, e num instante cheguei ao largo o imbondeiro, onde parei para descansar porque a minha mãe não podia descobrir que tinha vindo aquele caminho todo a pé sozinha, eu só podia fazer isso. quando não tinha as aulas todas mas não queria ser apanhada. Enfrentei o resto da rua até ao Sarmento Rodrigues com ar inocente e o coração empenhado em repetir tudo de novo, se a professora continuasse doente.


Foram semeados, naquela terra vermelha, sonhos que ainda sonham, sonhos que ficaram de asas cortadas  mas que ainda são sonhos vivos.










segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Continuação da História sem fim...

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Quando o sol beija a lua antes de ir dormir.

Quando a lua namora o sol, antes de ele partir (pintados por mim)


Pensavam que estavam livres dela??? :) mas não estão, aqui vai mais uma dose.



No palácio estava tudo tranquilo, as formiguinhas seguiam no seu carreiro de volta ao formigueiro, a cigarra vestia a camisola de gola alta para ir jantar a casa da formiga Rabiga, a libelinha Beijo, pintada de azul fazia belas piruetas, os três porquinhos, deitados na despensa, ressonavam que nem porcos deitados na lama, o Lobo Mau fazia várias tentativas para escrever uma carta ao Pai Natal, o Dragão sonhava com a Internet (ela achava que a “net” devia ser uma brasa porque toda a gente falava dela…), os príncipes sentados na lua (quarto crescente) que ficava mesmo ao lado da varanda mais alta do palácio, davam aos pés, suspiravam e encolhiam os ombros enquanto sorriam com ar tímido. A fada madrinha há horas que estava a fazer ovos estrelados para estrelar o céu durante a noite, (era uma grande trabalheira mas ela não podia recusar o part-time que a chefe das fadas lhe tinha arranjado para voltar a encher o mealheiro que tinha levado um grande rombo com o dinheiro que tinha gasto na viagem à Patagónia com o Pai Natal pois logo por azar, as renas nesse dia, estavam cheias de reumático e não os puderam levar. Só o cozinheiro do palácio, Januário Janota, dono do bigode mais farfalhudo e encaracolado do palácio (mas que nesse momento estava mais espetado do que a cauda do dragão) parecia louco, de faca no ar desferindo golpes e mais golpes num inimigo imaginário (ou não...porque o ataque era dirigido ao 1º ministro que por sorte estava bem longe da cozinha, pois caso contrário ainda tinha acabado no tacho a imitar um coelho…). O pobre cozinheiro estava cansado e furioso com a crise, o caldo verde já não era verde, estava amarelo de tantas vezes ser cozido, as batatas já se tinham transformado em batata palha de tanto que ele as poupava, a carne de empadão continuava em greve e ele estava desconfiado que os ovos também tinham feito greve porque já há uns dias que não encontrava nem um ovo “Como é que vou fazer o jantar? Isto é muito grave! Se apanho o 1º papo-o…”gritava o cozinheiro enfurecido. De repente lembrou-se que o Lobo Mau queria ser vegetariano e resolveu arrasar com um jantar verde (cor maravilhosa mesmo em alturas más…), fazendo peixinhos da horta, acompanhados com brócolos , que estavam a enfeitar a jarra da cozinha…o bigode do cozinheiro voltou a encaracolar e apesar do alivio que sentia por ter terminado a ementa do jantar Januário Janota ainda resmungava contra o 1º ministro e ia dizendo entre dentes que na primeira oportunidade o apanhava e ainda o ia pôr a cantar “eu não sei o que me aconteceu…foi feitiço o que é que me deu…” ou então “andei barbado, sujo e descalço, como um monangamba(…)e perdido me deram no morro da Samba…”nem que tivesse que pedir ajuda às ajudantes das bruxas. E com um sorriso matreiro foi cortar o feijão verde para fazer os peixinhos da horta…


Continua…um dia destes…


domingo, 24 de fevereiro de 2008

O Jacinto

O Jacinto é o segundo da esquerda para a direita e eu sou a de calções azuis



O menino do carrinho de rolamentos , que ele construía com paciência, orgulho e amor.
O menino livre de sorriso traquina e olhos inteligentes, que descobriam as novidades rapidamente.
O menino que corria descalço pelo quintal quente como se fizesse uma travessia complicada no meio do mato.
O menino doce que era a minha companhia, quando os meus pais trabalhavam e que adormecia vezes sem conta no meu ombro.
O menino que me pregava “as maiores e mais complicadas petas” e ria divertido e feliz quando eu descobria que tinha sido enganada.
O menino que amuava com facilidade mas que depois me abraçava meigo, enquanto lhe contava
uma história acabada de inventar.
O menino que não morreu electrocutado na “geleira”porque tinha uns “chinelos de enfiar o dedo em borracha”, daqueles que se podiam comprar baratos em qualquer loja e que hoje são caros porque se chamam “havaianas”.
O menino que agora é um homem, cinco ou seis anos mais novo do que eu mas que ainda é e sempre será o meu menino...


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Uma praia




Hoje não vou escrever, deixo apenas um quadro que pintei (não está completo porque a máquina fotográfica não passou para o computador, então resolvi digitalizar, quando a máquina funcionar de novo, ofereço o quandro inteiro com sol e tudo:), por hoje fica assim com um beijo para todos os que me visitam neste espaço.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Um dia no passado

os meus patins


Escrito em 15/05/2006(pequenas alterações feitas hoje)

Levantei-me às 5h30m da manha, a luz já entrava de mansinho pela janela, olhei para a rua, o sol estava a nascer, lindo como sempre (tal e qual como eu me lembrava). Como ontem a chuva fez uma visita, as rãs nas enormes poças de água, inventaram uma música maluca que cantavam desenfreadamente, por cima da minha cabeça um mosquito resolveu acompanhá-las e zumbia feito louco dentro do quarto. Por momentos, pensei reclamar por causa do barulho mas depois acabei por sorrir, fechar os olhos e adormecer, afinal eu estava com saudades de todos estes sons. Acordei às 7 horas, levantei-me rapidamente e tomei banho de água fria (o esquentador estava lá como sempre esteve mas também desta vez não era necessário...banho de água fria é mais fixe) lavei o cabelo e passei-o por água e vinagre para ficar macio e brilhante (sim porque o amaciador é coisa que nesta época ainda não foi inventada). Ao mata-bicho, comi pão comprado no depósito de pão em frente à Defesa Civil , leitinho delicioso vindo da vacaria e toca a andar a caminho da paragem do 22. Bata branca como se tivesse sido lavada com Skip mas que foi apenas lavada com sabão e esteve a corar depois da famosa sabonária quente da minha mãe (tão famosa e perfumada como as das outras mães). Na bata, vaidoso e triunfante bailava o emblema do LGL. A pouco e pouco outras batas foram chegando e a mistura das cores dos emblemas deram alegria à paragem, à rua, ao bairro, à cidade. Os príncipes encantados, cheios de estilo na passada chegaram também e com olhares atrevidos faziam comentários do tipo "abençoadas mães de tão bonitas filhas"e coisas ainda mais parvas mas que nos fizeram rir. Não sei como é que conseguimos entrar todos no maximbas, por momentos deixei de ver o Guimas, devia estar a apanhar alguma caneta que caiu aos pés da Cacilda, rapariga linda que põe os rapazes de cabeça às voltas. Chegamos à paragem em frente à 7ª esquadra, livra, entrou mais gente, socorro quero outro banho já (e também um frasquinho de perfume para atirar ao ar) depois de muitos encontões, risadas e amassos, finalmente o liceu. Motas que cantavam, mil borrachos lindos de morrer, carros, gargalhadas, batas misturadas em danças de beijos  com camisas cintadas, pancos de salto alto e calças à boca de sino, tudo no portão da entrada do liceu. De repente admirada vi “ninos” do bairro, o Vitor e o Virgílio cheios de banga. Perguntei ao Virgílio como pensava chegar ao Salvador Correia a tempo da primeira aula e ele respondeu que tinha borla de horário, o menino Vitinho, com a maior das latas disse com ar solene "hoje fuguei na escola"...eu como não podia faltar nem tinha borla ao 1º tempo tive que ir para as aulas. Aulas...aulas...mais aulas...finalmente hora d regressar a casa, nem queria acreditar...na paragem do maximbombo 22 estavam mais de 20 pessoas, chegou o maximbas e só levou 3 pessoas, 15 minutos depois outro maximbas e só 5 pessoas, quando pensava que só ia chegar a casa no dia seguinte lá veio um que me levou para casa. Entrei na minha rua e vi logo a minha vizinha Ana em cima de uma andas de madeira que ela estacionava junto da varanda do primeiro andar onde morava, o Jacinto, andava a abrir no carrinho de rolamentos e o meu Cajueiro como sempre esperava por mim à porta de casa. A Ana convidou-me para ir dar uma volta com ela, respondi que sim mas só depois do almoço. Às 3 horas fizemos um belo par, ela numas andas gigantes e eu de patins, compramos um pirolito e depois de algumas voltas e conversas com arcos, papagaios de papel, macacas, bolas de cilck clack, barra do lenço, dá-me fogo, escondidas e jogos do elástico, voltamos para casa, Estava na hora de fazer os trabalhos de casa e depois jantar, ficou combinado que voltaria mais um “cochito” antes de dormir na hora de “ flitar” a casa. Com os trabalhos já feitos e antes do jantar, sentei-me no muro, a trincar um “cadidito” de cana-de-açúcar, aquela do suco doce que nos faz ir até às nuvens. Enquanto mordiscava a cana, ia mexendo o corpo ao som do majuba que tocava em casa do Armelim. Senti-me feliz e nem os dois mosquitos que me tentavam picar me conseguiram irritar. A minha mãe mandou-me pôr a mesa e fomos jantar, era dia de quinino mas até esse desgraçado, me soube bem. O jantar estava bom mas o mamão acabadinho de apanhar do mamoeiro estava divinal. Ouvi a Luísa chamar por mim, fiz beicinho e pedi à minha mãe para me deixar ir lá para fora um “cochito”, ela olhou para mim de cara torcida mas acabou por m dizer que sim. Na rua a animação era grande, já lá estavam a Letinha, o Ventura, o Joao o Ze Antunes, o Nando,o Domingos, o Carlitos Antunes, o Virgílio, o Policas, o Nelo, o Vitinho o Arnaldo a Menita a Celucha o Toringa a Luísa, o Albano, a São e o Helder. O Armelim continuava a pôr música em casa (devia estar apaixonado e quando isso acontece, deita-se no chão, debaixo do gira-discos e fica horas a ouvir música enquanto sonha) ficámos ali a conversar embalados pelas canções do Roberto Carlos, nem demos pelas horas mas a verdade é que já era tarde e as mães começaram a chamar-nos, apesar de contrariados e de vários pedidos para ficarmos mais um pouco, tivemos mesmo que ir para a cama. Deitei-me, apaguei a luz, fechei os olhos e quase imediatamente adormeci, estava cansada. Acordei às 5h30m da manha...estava frio...levantei-me...tudo escuro e silencioso...não queria acreditar...aquela não era a minha janela...aquele não era o meu quarto...aquela não era a minha casa...aquele cheiro que eu amava já não se sentia no ar...já não estava a pisar o chão da minha terra adorada...tudo tinha mudado...teria sido apenas um sonho? Não! Não foi um sonho. Eu estive lá, com os meus vizinhos antigos e com os meus vizinhos novos todos juntos...foi lindo e quero repetir.



domingo, 17 de fevereiro de 2008

Amizade

Letinha,Virgilio,Nelo,Nixa,Guimas e Toringa (vários e bons amigos)
Três amigos...Vitor, Euzinha,Virgilio...um encontro especial.
Solzinho pintado por mim com carinha de amigo :)
04/04/1990


Ter um amigo:
É sem dúvida, a certeza de nunca estarmos sós e sermos pessoas amadas
É soprar sempre sobre nós, a doce, quente e suave brisa da compreensão
É sermos iluminados, de dia e de noite, por constelações douradas
É ter o privilégio, de sentir os borrifos de carinho, que dão vida ao nosso coração.










17/07/2004

Um amigo é:
Aquele que dá, pois é ele a nossa força.
Aquele que escuta, pois é ele o nosso diário falado.
Aquele que ampara, pois é ele que nos consola.
Aquele que caminha ao lado, pois é ele a nossa sombra.
Aquele que compreende, pois é ele que nos conhece bem.
Amigo é aquele que ama, pois é ele a nossa luz.





quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

A minha rua




Eu, o meu quintal, o meu cajueiro e a minha rua :)



Minha rua submissa, pecadora, esplendorosa
matreira, ardente, e sem qualquer temor
diverte-se alegre, dançarina e orgulhosa
ao domingo, bem vaidosa, mostra todo o seu fulgor.
Minha rua luminosa, palpitante, faceira
divertida e despreocupada entrega-se ao amor,
audaz, sensual, feliz, jovem e namoradeira,
ao domingo, bem vestida, mostra todo o seu esplendor




terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O baú das recordações



Meus queridos amigos, escrevi isto hoje dia 12/02/2008 para nós...

Dedico este texto à Letinha, à Sao, ao Vitor, ao Arnanldo, ao Virgilio, ao Fernando, ao Toringa, ao Guimas, à Mena, à Célia, ao Nelo ao Ventura, ao Helder e a todos os que me receberam e vivem comigo na "sala" onde está o baú. Amigos que me ajudaram a recordar de uma forma bonita tudo o que estava fechado a sete chaves e que partilharam comigo as suas recordações abrindo também os seus baús.


Entrei numa sala desconhecida lentamente, olhei em volta e a um canto, meio abandonado, estava um pequeno baú de madeira, forrado com folhas de lata azul, sem entender bem porquê aquele velho baú fascinou-me, lentamente aproximei-me. Era um baú de viagem antigo, na tampa estava colado um rótulo redondo onde se podia ler CNN (Companhia Nacional de Navegação) e por baixo estava escrito Baú de Recordações, logo ao lado uma grande etiqueta dizia “Frágil”. Parei em frente e um turbilhão de sentimentos estranhos invadiu o meu corpo, não me lembrava daquele baú mas sabia que tinha que o abrir. A medo, levantei a tampa que inevitavelmente me levaria de volta ao passado como uma máquina do tempo e nesse momento, começou a minha viagem a um mundo que foi meu e onde as recordações se misturam com as de outras pessoas em delicados bailados, em complicadas acrobacias, em doces relíquias e em fortes laços invisíveis.
Sentei-me no chão e reparei que o baú apesar de não ser muito grande, funcionava como a cartola de um mágico que mesmo sendo pequena consegue ter lá dentro as coisas mais incríveis e com o dobro do tamanho. Ganhei coragem, respirei bem fundo, fechei os olhos e meti a mão no baú. Senti uma coisa fria que se mexeu na minha mão, abri os olhos e pasmada vi a osga branca que vivia na minha casa em Luanda. Era uma osga de estimação, tratada lá em casa como se fosse uma vaca sagrada na Índia, porque segundo a minha mãe dizia ela protegia-nos comendo os mosquitos que nos queriam espetar o ferrão, fiquei tão contente por a ver de novo que quase lhe dei um beijo, afinal, até da osga sentia saudades e não sabia, até abrir aquele baú tão especial. Isso deu-me coragem para continuar a minha investigação mais uma vez enfiei a mão no baú e dei uma gargalhada, na mão tinha o meu primeiro soutien feito por medida numa costureira do meu bairro, logo em seguida segurava o meu biquíni vermelho com pintinhas brancas numa mão e na outra mão uma folha de welwitschia, a coroa do deserto. Nem queria acreditar que tudo aquilo estava ali dentro guardado, as lágrimas já brilhavam nos meus olhos quando misturado com as chaves da minha casa retirei um porta-moedas com algumas moedas e um sermão do Padre Costa Pereira dito numa missa de domingo. As coisas continuavam a aparecer da forma mais estranha, deu-me um ataque de tosse quando inadvertidamente peguei no carro da tifa, o carro que fazia as nossas alegrias e que era certamente a preocupação dos insectos. Parei para descansar um pouco de tantas emoções mas por pouco tempo pois a curiosidade era muito grande, remexi mais para o fundo do baú e olhei com carinho para o meu livro da 3º classe, que bonito que era e que boas recordações me trazia, em seguida toquei num botão e logo ouvi o ronco feliz da mini honda, a música do filme Trinitá, a voz de Elias Dia Kimueso e Teta Lando a cantarem no Kussunguila, e mais uma vez a lágrimas regressaram mas logo voltei a sorrir com uma pararuca colada à minha mão. O meu colo já era nesse momento, uma grande confusão mas mesmo assim ainda lá coube, o meu cajueiro de prata, meu amigo de infância, o meu doce “Jueirinho” e as mangueiras todas do meu quintal, juntamente com o meu cão Chau-Chau e o meu gato rei trinitá. As surpresas não paravam, eram carrinhos de rolamentos, pára-quedas de plástico agarrados aos fios da electricidade, e pára-quedistas verdadeiros que saltavam no golfo de dentro do barriga de ginguba ,eram papagaios de papel coloridos, campos de algodão em flor, embalagens de quinino, fios de missangas coloridos, gargalhadas dos meus amigos, o  disco “Amanhã” do Duo Ouro Negro, a minha bata do LGL, um churrasco bem picante com pickles e batatas fritas embrulhado num tecido com padrão de grão de café e com o prego que usava para jogar ao mundo espetado no churrasco como se fosse um palito. Mas quando vi sair, os meus patins, a lua gigante, a maré baixa de água quente e o sol brilhante a sorrir para mim entendi que dentro daquele baú estavam todas as coisas simples que me fizeram crescer feliz, estava o meu mundo onde um dia a minha vida acontecera, então decidi celebrar os bailes do clube, o cortejo dos liceus no final do ano lectivo, o cinema S.João o Miramar e o Restauração, a Igreja Sant’Ana, o brilho das nossas ruas ou o brilho dos nossos corações que brilham de amor por elas. Decidi brindar à vossa amizade e às nossas recordações como se brinda com carinho no dia dos namorados, como se brinda com alegria no carnaval, como se brinda com esperança no Natal. Brindo à vossa presença na minha vida, pois pisámos as mesmas ruas, frequentamos os mesmos lugares, vivemos as mesmas emoções e temos as mesmas recordações loucas, que só nós entendemos. Brindo ao nosso reencontro e ao nosso mais íntimo e precioso sonho, o regresso nem que seja por uns dias. Por fim retirei uma pequena estrelinha que brilhava dentro do baú, não sei se estava acordada ou se já estava a dormir mas sei, que a estrela me disse que Angola nos chama, que também ela sente a nossa falta e que um dia, voltaremos.







segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Pensavam que já tinha acabado a historia sem fim? Mas não acabou!Sabem porquê? Porque não tem fim :)

CAP:XI

Enquanto isso no castelo e completamente alheios ao que se passava em casa da bruxa, os príncipes depois de darem uma volta pela praia do reino, foram tomar banho. Quando a princesa olhou para dentro da sua banheira viu um estranho aparelho e pediu ajuda ao principe porque não sabia tomar banho com aquela gingajoga. O príncipe explicou como funcionava mas nem se lembrou que aquilo não estava ali antes do almoço (não estava antes do almoço porque fazia parte do plano da bruxa...pobres príncipes). Dentro das banheiras os principes divertiram.se a tomar banho com repuxos que faziam lembrar os laguinhos do castelo ( sim, porque na banheira do príncipe havia uma maquineta igual). O pior foi kuando pensaram sair, não existia uma única toalha. Maldade da bruxa má do oeste que as tinha feito desaparecer. Nesse momento estava o lobo mau, deitado na cama a pensar como ia pedir ao Pai Natal uma cigana para lhe ler a sina, quando... começaram a cair toalhas do teto. O pobre lobo mau pensou que aquilo era uma invasão de extra-terrestres e começou a gritar por socorro. O dragão correu para o quarto do lobo para o salvar mas fugiu que nem um louco a gritar que o castelo estava assombrado porque tinha acabado de ver um fantasma.
Em casa da bruxa má do oeste, o gato continuava à espera de ver acontecer uma desgraça mas a única que ele conseguia observar era a bruxa má do oeste aos saltos enquanto cantava uma canção maluca e muito desafinada, que ele nunca tinha ouvido antes (nem quando tinha pesadelos), mais feliz do que um porco deitado na lama a bruxa cantava assim:
- Consegui, gui,gui,gui...fazer bagunça, unça,unça,unça. Lá. Lá. Laráli. Larilá.
Entretanto no castelo parecia ter começado a guerra das estrelas, os príncipes cheios de frio e todos molhados, limparam-se aos cortinados para poderem ir socorrer o lobo e o dragão que estavam em apuros. O dragão gritava:
- Fantasmas, fantasmas.
O lobo mau que não conseguia ver nada perguntava aflito:
- Onde estão que eu não os vejo? Ajuda.me!
O dragão aterrorizado porque via o lobo embrulhado em toalhas cada vez mais perto, respondia:
- Não posso, um está quase a apanhar-me, já está muito perto...Socorro!!!
No meio de toda a confusão apareceram os 3 porkinhos que cantavam alegremente:
- Estamos em greve...lárilálá, estamos em greve…
O lobo mau, pensou que se não morresse nesse dia passava a ser vegetariano, porquinhos em greve, fantasmas, extra-terrestres eram demais para ele, o pior é que não via nada e a culpa era daquele peixe assado que lhe tinha caído mal e ele estava a imaginar coisas, só podia ser isso...de repente o dragão tropeçou e o lobo mau que vinha muito perto caiu-lhe em cima. O dragão começou a gritar que o fantasma o tinha apanhado, as toalhas cairam no chão e o lobo finalmente conseguiu voltar a ver. O lobo olhou para o dragão que dava às pernas por baixo dele, olhou para a cara dos príncipes embrulhados nos cortinados, levantou-se, sacudiu-se e disse:
- Logo à noite quero couves para o jantar! E tu, dragão... devias fazer o mesmo!
E muito direito, foi embora na direcção do quarto, no pensamento levava a firme decisão de escrever nessa noite uma carta ao Pai Natal.



continua...


domingo, 10 de fevereiro de 2008

A minha princesa


A minha filha é o meu bem mais precioso, é por ela que sinto um amor imenso, bonito e insubstituível. Apesar disso ainda não tinha escrito sobre ela por isso decidi que era hoje o dia certo.



Cartas que escrevi à minha princesinha nos dias dos seus aniversários...escrevi outras mas vou partilhar estas com os meus amigos.

26/11/1999

Já tens 13 anos, estás uma mulherzinha muito bonita.
Quero que saibas que me orgulho muito de ti. Quero que saibas também, que tu na minha vida és tão bela como as estrelas no céu, és tão necessária como a “tica” para os filhotes (a tica era a fêmea de um casal de canários), és tão importante como o sol para a Terra, és tão pura como a água que corre de uma fonte.
Adoro-te carochinha, porque se me dás uma preocupação, logo em seguida me dás três alegrias, se nos zangamos, basta um sorriso ou uma palavra, para esquecermos tudo, a tua mãozita na minha dá-me força, os teus olhinhos felizes guiam-me.
Xuzinha, meu sol, desejo-te um dia feliz e mesmo que eu refile, mesmo que eu diga que estou cansada, nunca te esqueças que agradeço sempre a Deus por tu existires, por fazeres parte da minha vida, por ter o privilégio de ser tua mãe.










26/11/2006


Parabéns à minha princesa linda que eu amo muito e que faz hoje 20 anos.

Há vinte anos, olhei para ti e... apaixonei-me.
Eras uma criança tão linda e... toquei-te.
Tinha medo de falhar como mãe e... abracei-te
Senti então que éramos uma só e... beijei-te.
Desde esse dia passaste a ser a minha estrela e adorei-te

Obrigada por seres a filha maravilhosa que és
Obrigada por me amares sem limites
Obrigada por cada alegria que me dás
Obrigada, principalmente por gostares que te ame.




No espelho do quarto de banho, escrevemos recados uma à outra, um dia ela escreveu:" Mãe, és uma chata mas eu amo-te",esse recado é o meu favorito :)





quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Eu e os meus vizinhos


Dedico o que escrevo hoje aos meus vizinhos virtuais da Sanzalangola que sentem o que eu sinto, viveram o que eu vivi, pessoas especiais com quem me divirto e em que confio.

Deu-me para escrever ( ) desculpem o atrevimento... mas hoje vou falar um pouco sobre mim.

Nas festas quando era jovem nunca fui a mais animada nem a que era ansiosamente esperada pelos rapazes, não por ser horrível ou mal feita, mas porque era tímida e muito envergonhada (só me libertava dessa timidez quando a minha amiga Luísa, ela sim...simpática sorridente e destravada me arrastava e me transformava) às vezes nas festas nem reparava que me estavam a convidar para dançar, então os rapazes pensavam que eu estava a gozar com eles  a dar tampa de forma dissimulada e não me voltavam a convidar ( Ai!...Pobre de mim que nem fazia por mal) normalmente só dançava com quem me conhecia e vinha falar comigo. Muitas vezes, enquanto ficava no meu canto (e ainda hoje faço isso) aproveitava para analisar as pessoas e os seus comportamentos ( alguma coisa tinha que fazer... ) dessa forma aprendi a conhecer as pessoas pela forma de agir em momentos descontraídos. Mas sempre fui amiga dos meus amigos e sei até que fui boa vizinha,
No meu bairro “Tuga”, hoje em dia, não sou a vizinha mais simpática que fica a falar sobre a vida dos filhos, dos netos do tempo... e principalmente das outras vizinhas, não gosto de falar da vida dos outros e raramente falo da minha. Isto tudo para dizer que não tenho a mania que sou boa pessoa nem faço de conta que sou... sei que há bem melhor e também pior...e como ainda hoje tenho o hábito de analisar comportamentos posso dizer que ainda há muita gente por estas bandas a ter aquela atitude de pisar no pé de alguém de propósito e depois fazer um ar inocente e dizer: "«Ai, desculpe não reparei no seu pé" Foi assim, dessa forma cínica que nos trataram quando chegamos a Portugal Continental, vindos contrariados, vazios e tristes de um Portugal que era Portugal mas que infelizmente era Ultramarino e talvez por isso nos tornamos um pouco desconfiados, talvez por isso sempre fomos incompreendidos e até hoje criticados, talvez por isso também todos temos cá o corpo mas o nosso coração estará eternamente lá...

Neste bairro virtual e animado, gosto de dançar.
Neste bairro tão verdadeiro, gosto de passear.
Neste bairro quente de gente que luta, gosto de rir.
Neste bairro de céu azul, gosto de partilhar uma pararuca.
Neste bairro de sonhadores, gosto de conversar, porque:
Quando saí de Luanda, nos campos de algodão, aluguei um quarto à tristeza,
Na plantação de cana de açúcar, fiz um baú para as recordações,
Nas praias quentes, lancei ao mar, pirogas de saudade,
No vermelho grão de café, inventei sonhos.
E quando um dia, vos encontrei na Sanzala, voltei a casa de uma forma muito doce.
Vocês são os vizinhos a quem gosto de dizer bom dia, até logo e com quem quero conversar ao fim do dia.
Vocês são os vizinhos com quem gosto de fazer sonhos, partilhar recordações, construir alegrias ou apenas olhar a lua.



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Mais uma dose da historia sem fim

CAP.X


Já na sala de jantar, ainda desconfiado com o cheiro a porquinhos que pairava no ar, o lobo mau olhou enjoado para a travessa que estava em cima da mesa. “-Drogra” pensou “-é mesmo a minha semana de azar... peixe assado no forno? Não era empadão?” os principes sorriram quando viram a cara do lobo mau que parecia ter levado com uma bigorna na cabeça, até fazia ondas à volta das orelhas. Com voz calma o principe pediu desculpa pela troca da ementa, mas a carne do empadão tinha feito greve e a única soluçao tinha sido o peixe que estava distraído a contar as ameias dentro do lago do castelo. O dragão pensou logo que a culpa da greve da carne era do 1º ministro mas não fez comentários, até porque ele gostava mais de peixe e também não queria levantar a lebre (sim porque a parva da lebre tinha a mania de andar ao colo...) para não saberem do plano dele para conquistar a filha do rei que ainda por cima era amiga da princesa.
Durante o almoço, o principe contou histórias de assustar para distrair o lobo que estava com os olhitos a andarem às voltinhas e com cara de poucos amigos (também, amigos ele só tinha o dragão mas como era grande, valia por muitos). Contou o principe que a bruxa má do oeste tinha travado uma dura luta com a fada madrinha. A luta tinha sido tão dificil que até os cabelos loiros da fada madrinha tinham mudado de cor por causa do esforço que tinha feito para proteger os príncipes. Contou ainda o príncipe que a fada teve que ir alinhar a direcção da varinha mágica porque a estrela, ficou torta durante a luta. O lobo mau é que n queria saber disso para nada. Estava amuado e pensava “-Bah! Varinhas mágicas, direcção alinhada, peixe assado... e ninguém se preocupa com o furo que a bruxa má do oeste me fez no pelo, sim porque eu tenho a certeza que foi a bruxa má. Ufa! O melhor mesmo é mudar de história, esta está a ficar muito perigosa, ou então arranjar uma cigana para me ler a sina.” Enquanto pensava olhou de esguelha para o dragão que se tinha eskecido que era desdentado e ria tanto que até abanava a barriga. De novo deixou de ligar ao que diziam e voltou a pensar no assunto “- uma cigana...onde poderei arranjar uma cigana? Será que o Pai Natal me dá uma se eu pedir?” Tinha que se deitar sobre o asunto nessa noite ( o que não era muito bom porque o assunto era grande e ele cada vez tinha mais dores nas costas de tanto dormir em cima dos assuntos, mas este valia a pena) sem dar por isso o lobo mau começou a sorrir o que deixou o príncipe muito feliz porque finalmente tinha conseguido tirar a cara de mau ao lobo e a princesa de certeza k lhe ia dar um beijo especial, talvez um beijo com uma estrela, uma flor ou uma roseta...mal podia esperar para saber que beijo ia ganhar. Do outro lado da mesa a princesa adivinhou o pensamento do principe, sorriu e disse, beijo preto com corações rosa... nesse momento o lobo mau endireitou as costas, abriu a boca e ia perguntar que coisa era aquela de beijos pretos com corações rosa mas não disse nada, porque os príncipes podiam não gostar, ia perguntar à cigana, ela de certeza sabia o que era isso. O dragão que também tinha ouvido o que a princesa tinha dito e, como era muito guloso pensou que era uma receita de bolo e perguntou logo se não havia uma fatia a mais para ele. Os principes sorriram e explicaram ao dragão que estavam a falar de uma libelinha a quem eles tinham dado o nome de beijo, que voava pelo reino e que a princesa todos os dias pintava de cores diferentes e nesse dia a princesa tinha pintado a libelinha de preto com corações rosa. O lobo mau fanziu o nariz e pensou “- Qual é a piada da libelinha? Também sou preto e posso fazer uma tatuagem cor-de-rosa em forma de coração...e tenho mais pinta!” o dragão por sua vez, ficou com água na boca, ele achava que bolinhos com corações deviam ser muito saborosos, libelinhas infelizmente ele não gostava.
Longe dali a bruxa má do oeste punha em prática o plano B de burro, tinha acabado de comprar um caldeirão com turbo incluído todo eléctrico com aranhas desenhadas na tampa. Cantarolava e dizia para o gato preto:
- Pois é bebé, agora é que eles vão ver como é... tcharam!!!!!
O gato preto com cara de parvo, só rezava para o feitiço não cair em cima dele, como das outras vezes ( sim porque ele ainda se lembrava muito bem quando a bruxa o tinha transformado em pato...logo ele que detestava água...tinha passado o dia dentro do lago a namorar uma pata choca).
A bruxa saltou, correu, subiu as escadas, fez piruetas com a vassoura e entrou na banheira a alta velocidade, depois voltou para junto do caldeirão e mais uma vez disse:
- Tcharam!!!!!
O gato tapou os olhos com as patas da frente e ficou à espera de sentir alguma coisa. Mas nada, não acontecia nada, a casa continuava de pé e ele continuava a ser um gato. O feitiço devia ter resultado porque até a lua nova que nunca se conseguia ver, tinha aparecido de repente.


continua



terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Quadros que eu queria pintar



novo intervalo na história sem fim...


Quadros sem data, ja foram escritos há muito tempo


Quadros...onde eu queria pintar, os doces traços do teu rosto, junto ao meu...
Pintava o arco-íris da tua voz quando falas docemente...
E ao pintar o fogo preso, dos nossos corpos apaixonados que pisam distraídos, a chama das nossas almas nuas, em jardins encantados, perfumados de saudade, pintava também as juras feiticeiras que se multiplicam e se transformam nos mistérios do mar...
Pintava como ele guarda nas suas conchas douradas a cumplicidade dos nossos passos, na rua dos nossos corações...como guarda os nossos cheiros, nas paredes da nossa paixão.. como guarda os nossos beijos, nas janelas dos nossos olhos...
E na dança mágica de lábios que se amam debaixo de um sol sonhador e ao som da luz da lua... pintava o amor.


Se eu soubesse:
pintava a amizade
pintava as emoções
pintava o que já vivi
pintava até as desilusões
pintava o meu mar
pintava as esteiras na areia
pintava o sol e a lua
pintava os peixes e as quitetas
pintava a minha alma nua
pintava o meu baú de recordações
pintava o brilho das estrelas
pintava os meus vizinhos e a minha antiga rua




Olá caranguejo ladino,
que corres veloz na areia quente,
jogas divertido às escondidas
e saltas com as conchas ao eixo alegremente.
Olá linda e jovem gaivota,
que fazes piruetas elegantemente,
cantas desafinada enquanto alto voas,
misturas-te com o céu que conquistas livremente.
Olá peixinho atrevido,
que brincas inconscientemente,
espreitas distraído no meio das ondas
e trocista mergulhas novamente


domingo, 3 de fevereiro de 2008

Mais um cap. da Historia sem fim...

CAP:IX

Dois dias depois o lobo mau chegou ao castelo dos príncipes, com a pele acabadinha de ser limpa na lavandaria. Com ar preocupado o lobo mau esticou e alisou suavemente os bigodes, aquele remendo na pele, junto à cauda não o deixava muito à vontade. A senhora da lavandaria tinha sido muito simpática e tinha feito um bom trabalho de costura naquele buraco mas apesar dela lhe ter garantido que quase não se notava, parecia que o remendo ocupava um espaço enorme e esse pensamento nao lhe saia da cabeça, por isso acabou por falar alto:
-Que chatice de certeza que o Rei vai reparar no remendo e assim vai pensar que sou pindérico demais para casar com a filha dele. Quem me dera poder ir a um pronto-a-vestir comprar uma pele novinha em folha...quer dizer novinha em pelo. Ai! Ai! Sorte malvada! Mas porque é que só nasci bonito? Porque é que não nasci rico também?
Olhou para as unhas e pensou que o melhor era ir arranjar alguém que tratasse de unhas de lobo mau, podia ser que com as unhas arranjadas o buraco na pele não se notasse tanto.
Enquanto isso, na sala ao lado o dragao de mãos (patas não fica bem na história) à cintura olhava para o espelho e dizia:
-Amigo...tens que fazer uma dietazita, estás com uma cauda muito gorda e um pouquinho de cintura não te ficava nada mal, porque no dia do casamento todos vão estar de olho em ti...mais propriamente em mim...Ai! Ai! Já nem sei o que digo.
Ele tinha uma vontade enorme de perguntar a opinião do lobo mau mas tinha que se controlar e ficar caladito, não fosse o lobo mau roubar-lhe a ideia e ainda ficava sem noiva, sem sogro, sem casamento e pior do que tudo...sem chama. Também achava que tinha que ter muito cuidado com akele 1º ministro que andava sempre a olhar para o ar, sim porque quando ele fosse marido da filha do rei ia andar a tropeçar no 1º ministro a toda a hora. Com aquela mania de olhar para o ar o homenzinho dificilmente saberia por onde andava e devia ser encontrões de meia-noite. O 1º ministro começou a ocupar os pensamentos do dragão de tal maneira que até se esqueceu da cauda gorda e começou a andar em círculo enquanto pensava com os seus botões que o 1º ministro era muito estranho. De repente deu um grito:
-Bolas! De tanto andar às voltas já fiz de novo um buraco no quarto! A culpa é do ministro, será que ele andou na escola e saltou à macaca? Ele nem tem cara de quem brincou aos polícias e ladrões e muito menos de quem brincou às escondidas. Hum! Quem não brincou à macaca em pequeno, não é de confiança. Acho que ele só devia querer brincar aos ministros. Que falta de gosto...”-Querem brincar aos ministros?” Ah,ah,ah! Faço ideia a cara dos outros...
Nesse momento tocou o sino para o almoço, abanando a cabeça e ainda a rir o dragão saiu do quarto e foi bater à porta do lobo mau. Ainda não tinha batido à porta quando deu de caras com os três porquinhos que iam no corredor conversando alegremente. O pobre dragão esfregou os olhos, pensando que estava a ver mal...os três porquinhos no castelo no inverno? Se o lobo mau soubesse ia ser um reboliço, nem a fada madrinha lhes valia...por falar em fada madrinha o dragao lembrou-se se ela nao estaria de férias na patagónia com o Pai Natal, porque nem se via a fada há muitos dias nem o natal chegava. O dragão sonhava com o natal porque ele queria ter um computador, estava só um pouco baralhado porque não sabia a quem pedir tal presente, não sabia se devia pedir à fada madrinha ou ao Pai Natal mas sem computador é que ele não ficava porque até o vizinho condor que vivia no cimo da montanha tinha um...o que o dragão achava indecente porque ele era mto mais giro e charmoso...até a gordura da cauda lhe ficava bem por isso devia ter sido o primeiro no bairro a ter computador...ainda de mao fechadita no ar, sem ter batido à porta do lobo mau assim divagava o dragão, completamente esquecido do que ia fazer. Voltou a lembrar.se dos três porquinhos e nervoso pensou alto:
-Será que os três porquinhos vieram pedir emprego a tempo inteiro? Com a crise que existe por aqui mais três ordenados para pagar e ainda me mandam mais cedo para a reforma...hum!!! É verdade, isso nao pode ser porque o 1º ministro acabou com as reformas antecipadas. Ainda bem!!! Livra!!! Afinal o homem sempre serve para algum coisa.Mesmo assim fiquei intrigado com os três porquinhos, tenho que investigar o caso.
Nesse momento lembrou-se finalmente que estava com fome e que já tinha tocado para irem comer, deu um pequeno impulso à mão e bateu à porta do lobo mau ao mesmo tempo que gritava:
-Então companheiro, vamos comer?
A resmungar por causa do buraco na pele, o lobo mau abriu a porta, saiu e começou a andar sem olhar para o dragão, mais à frente como se tivesse travões nos pés, o lobo mau parou, esticou o nariz e exclamou:
- Cheira-me a porquinhos!!!
Para evitar confusões o dragão respondeu:
- Estás tonto...Devo ser eu. O cheiro é porque eu ainda não tomei banho e ...pronto, talvez pareça um porquinho suado...
O lobo mau olhou para ele com cara de lobo mau e pensou que o dragão estava mesmo parvo de todo, ele nunca tomava banho para nao ficar sem a pouca chama que ainda tinha e nunca antes lhe tinha cheirado a porquinhos, por isso achou melhor não responder, até porque ia perder mais tempo e o jantar era empadão, o prato favorito dele e dos príncipes.



continua...

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Continuação da História sem fim..

CAP.VII

Estavam todos a dançar muito divertidos quando se ouviu um toque que anunciava a chegada do 1º ministro do reino que tinha um comunicado para fazer aos súbditos de S.Majestade. Dirigiram-se todos para a rua para ouvirem o que o 1º ministro tinha para dizer, ele era uma pessoa envergonhada e não olhava nos olhos dos outros quando falava, olhava sempre para o céu como se esperasse uma chuva de meteoritos. Com ar sério e convicto mas olhando sempre para cima (desconfiado das pedras k habitam o céu) o 1º ministro, abriu lentamente a folha, assinada e carimbada pelo rei (apesar do carimbo estar tao usado que mais parecia o focinho do cão do palácio do que a cara do rei) tossiu para aclarar a voz e lentamente começou a ler:
- Faz S.Majestade, Rei deste Mundo e do Outro ao Lado, saber a todos os seus súbditos que o palácio está em crise. As goteiras são muitas, a canalizaçaão está uma desgraça, não há velas e a lareira n funciona. A bruxa de serviço despediu-se com justa causa e a fada azul está com baixa de parto. Assim, informa o rei, a quem estiver interessado em investir na SAR (sociedade anónima real), o investidor pode ser um príncipe com algum cacau, um plebeu que entenda de obras e tenha stock d velas em casa ou alguem com uma cabeça com ideias luminosas que consiga iluminar o castelo e que ajude a resolver todos os problemas do reino, Diz ainda Sua Majestade que o investidor vencedor receberá a mão da filha do Rei que por acaso não é princesa porque nasceu no dia 29 de fevereiro e só faz anos d 4 em 4 anos (e uma princesa tem que fazer anos todos os anos por causa das festas de aniversário para não dar mau aspecto e não parecer que não há dinheiro para fazer festa). O único defeito (e nem se pode chamar defeito) da filha do rei, é ter soluços, tirando isso, akele pekeno problema d pele... quase não se nota porque ela anda de mangas compridas e golas altas, só fala mto alto porque o castelo é muito grande...e tem poucos empregados, assim poupa-se nos sininhos e nas campainhas, é muito magrinha...mas disfarça mto bem porque veste 3pares de meias de lã e varias camisolas. Podemos dizer que a filha do rei é uma perfeiçao em todos os aspectos. A partir d hoje estão abertas as inscrições.
E dizendo isto, com ar solene e sem deixar de olhar para cima, dirigiu-se à sua lambreta e foi embora, deixando no seu lugar uma nuvem de poeira. A caminho do palácio ia pensando que nem se atrevia a dizer ao rei as boas idéias que tinha para ganharem dinheiro e não obrigarem a rapariga a casar (até podia ficar pior dos soluços) podiam criar impostos inteligentes, por exemplo pagava imposto quem comesse alface, quem comesse peixe, quem comesse carne e quem não comesse nada, outros impostos podiam ser inventados, menos para o amor, porque ele estava apaixonado e não queria pagar imposto. Ele achava o amor uma coisa estranha que ia da pele ao coração e ao contrário...


CAP:VIII

Depois da leitura do comunicado do rei Deste Mundo e do Outro ao Lado o lobo mau e o dragão ficaram sem palavras...mas com as respectivas cabecinhas a funcionarem rapidamente. Pensava assim a cabeça do dragao:
- Casar com a filha do rei...acabava o problema da falta d gás! Se eu tivesse uma ideia luminosa! Sou giro, sexy, verde inteligente, vou inscrever-me e ganho a filha do rei. Sopro na canalizaçao, faço de vela, ponho-me em lume brando para aquecer o castelo em banho maria em vez da lareira...está no papoYyyyyyyyyyyyes!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Só tenho que arranjar uma bilha de gás.
A cabeça do lobo mau tambem pensava, até fazia ruído de tanto pensar. E pensava assim o lobo mau:
-Tenho que mandar de novo a pele à lavandaria...casar com a filha do rei era cá um luxo...mandava bordar o brazão na minha linda pele e so comia francesinhas e bifes (lambia os bigodes ao pensar nos saborosos bifes que podia comer e nas suculentas francesinhas bronzeadas...quer dizer derretidas). Ah, pois é! Rica vida que vou ter e nunca mais durmo no tapete. Vejamos...levo o dragao comigo, irrito-o tanto k ele deita fogo e acende a lareira, vou à loja dos chineses e compro daquelas velas dos budas das que se levam 6 e pagam 7 (preços da china) tudo por 1 euro e meio. O pior é a canalização...já sei telefono a alguém do jet 7 e pergunto como é que costuma fazer quando necessita dos serviços de um canalizador e não tem dinheiro. Pronto, tá resolvido...resolvido e ganho. Nem mais, vou já fazer a minha inscriçao.
No seu pequeno quarto perto do palácio o 1º ministro via-se ao espelho, tentando imaginar se ficava melhor com ou sem óculos e se devia comprar uns sapatos de bikeira redonda ou kuadrada para ser mais moderno. Acabou por chegar a conclusão que com óculos ficava com um ar mais inteligente mas quanto aos sapatos ainda estava na dúvida pois não sabia se tal modelo seria do agrado da filha do rei.
No castelo, longe de todos estes pensamentos e aproveitando que a bruxa má do oeste (que o príncipe julgava ser do leste), estava distraída, os príncipes namoravam apaixonados e descobriram coisas muito interessantes. Aprenderam que afinal as estrelas estavam muito perto quase ao alcance das mãos, viram que as águas dos rios eram como caminhos prateados onde se podia andar suavemente e descobriram que quando as suas mãos se tocavam, provocavam descargas eléctricas capazes de fazer inveja à Barragem de Castelo de Bode (claro que o bode não queria saber de descargas eléctricas, ele gostava mais de relva e nem sabia quem o tinha enfiado na história da barragem).

continua...


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Chegada da felicidade

hoje faço um intervalo da história sem fim e escrevo sobre a felicidade...

 (Não sei quando escrevi isto)

Que bom que é estar despreocupada a ver a felicidade chegar.
Que elegante, que bonita, que bem vestida que ela vem. O que devo fazer? Convido-a para entrar? Será que vai aceitar?
Quem me dera que comigo ficasse, que comigo simpatizasse, timidamente digo para ficar.
Mas...claro que ela não quer...diz que o tempo que comigo ficou já me bastou!
Diz que não tenho categoria, que não saberia como a tratar e que nem vale a pena insistir porque ela não vai ficar.
Diz que tem que viajar mas que vai voltar...diz-me adeus e vai-se embora devagar, enquanto eu tento argumentar.
Foi-se embora, de nada me valeu, foi-se embora e levou o que era meu, agora só me resta guardar esta recordação, para que a visita da felicidade não tenha sido em vão. Talvez ela cumpra o que prometeu e volte a visitar-me outro dia.
Talvez se eu me esforçar mereça a honra da sua companhia.
Talvez ela se canse de tanto viajar e comigo decida ficar...para já tem que me contentar com os minutos que ela comprou para me dar.
Abro uma caixinha e guardo lá dentro um pedacinho de felicidade juntamente com outros que já lá estão, dentro de mim um sorriso ilumina o meu coração... porque conheço a felicidade, a amizade e o amor.


(também não sei quando escrevi isto mas foi escrito para a minha filha)

A Felicidade deve ser:
Um Oásis...
Um abrigo...
Um sonho...
Um investimento...
Uma obrigação...
Uma certeza...
Uma finalidade...
Uma teimosia...
Uma realidade...

(mais uma vez não sei a data em que escrevi mas foi escrito para os meus amigos da sanzala)

Sejam felizes, se conseguirem namorem muito...se não conseguirem namorar, amem apenas