quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

História sem fim... (continuação)



CAP.IV

O lobo mau sonhava com lobinhas e no sonho era apenas um cachorrinho mimado e delicado mas quando ia ser gentil com uma lobinha linda que passava no sonho acordou, viu que estava nu, correu para a sala e escondeu-se atrás do louceiro. Aculpa era toda da fada madrinha, não lhe dava uma lobinha daquelas só para ele, deixava a bruxa má fazer maldades e nem a pele dele tinha defendido. mas a fada madrinha estava cada vez pior, agora até achava que as constelações foram inventadas para fazer magia e pensava que eram uma varinha mágica tamanho familiar muito moderna com multifunções, apresentada na nova colecção de varinhas magicas Outono Inverno. Dizia a fada que só não comprava uma porque não tinha dinheiro para essas coisas chiques pois cada vez que respondia a um anúncio para melhorar a vida e comprar uma multifunções queriam sempre fadas com muita experiencia e ela só tinha treinado com os príncipes (e mal). Lembrou-se então o lobo de uma conversa que ele tinha ouvido no jardim entre a princesa e uma lobinha muito bonita a quem a princesa contou a história do príncipe, da bruxa e da fada. A lobinha tinha ficado tão pasmada com a história que até tinha dito uma grande injustiça na opinião dele, tinha dito a lobinha que não se admirava nada, que o lobo mau fosse o capuchinho vermelho, isso era uma coisa que o lobo mau não podia aceitar...estava decidido, iria pedir ao capuchinho vermelho para namorar com ele, assim acabavam-se as bocas parvas, já que com a fada não podia contar. Tão distraído estava que nem reparou que o dragão tinha chegado e tinha falado para ele. Furioso e a deitar alguma chama, o dragão foi-se embora.

CAP:V

No outro lado do castelo a fada madrinha olhava encantada para as novas aquisiçoes uma torradeira (mas não das assustadoras que fazem saltar as torradas) e uma picadora moulinex que também tinha uma estrela na ponta mas muito mais sofisticada do que a varinha magica ( nao era uma multifunções mas era quase) pensava que podia fazer uma experiência com a nova varinha, podia por exemplo por os três porquinhos a dançar o vira com os sete cabritinhos, ou o lobo mau a dançar o tango com o dragão. Mas imediatamente mudou de ideias porque viu o dragão passar para o quarto com cara de poucos amigos e a fazer estranhos ruídos. Ela sabia que um dia iria surpreender todos nem que tivesse que se inscrever numa escola de surf ou fosse fazer motrocross e transformando-se numa fada radical.
O dragao, desolado com a falta de atenção que o amigo lobo mau tinha demonstrado quando se tinha lamentado pela falta que o gás fazia na sua vida, olhou distraidamente para o espelho e ficou completamente aterrado com aquilo que tinha acabado de ver. Já lidava mal com o facto de numa briga antiga ter perdido os dentes...mas akilo era demais, cabelos brancos. “Que horror!” pensou. Nem tinha coragem de olhar novamente. Pobre dragao até sentia falta de ar, abriu a porta do quarto e saiu a correr. Na sala azul viu a princesa que conversava com o principe enquanto ouviam kizomba. O lobo mau também lá estava deitado no tapete de barriga para baixo e com os pés no ar a dar à cauda ao som da música. Contava a princesa que às vezes as lágrimas caiam dos seus olhos e que nem eram lágrimas de crocodilo nem das que se transformavam em pérolas porque se isso acontecesse a princesa teria pérolas suficientes para fazer negócio com a bruxa má e ainda sobravam perolas para dar algumas à maga Patalógika em substituição da moedinha nº 1 do tio Patinhas, dar umas aos irmãos Metralha para eles se dedicarem à pesca, dar duas ou três ao fantasma para ele atirar à cabeça dos malfeitores se o anel estivesse na ourivesaria para fazer uma limpeza, outra oferecia ao mandrake para fazer de alfinete para a capa e ainda podiam fazer todos, uma saída até a feira polpular e tentar acertar nos bonecos com as pérolas que sobravam. Com tanta conversa sobre pérolas o dragão começou aos berros:
-Já agora comprem também um fatinho novo para o lobo mau!!!... E eu? E eu? Ninguém se lembra de mim? O gás? Sim o meu gás? Que tal uma pintura no meu cabelinho? Talvez em vermelho, para fazer contraste com o meu verde! Que acham? Ficava tcham?!!! Eu sei que sou giro que me farto mas assim ia ficar mais e podia fazer propaganda ao benfica com o cabelo e ao sporting com o corpinho...ganhava uns euros extras e...que barulho é este??? Será que ontem quando andava a correr nu pelo castelo, a fugir daquela vespa enorme (que vergonha nem me quero lembrar a fada madrinha viu que sou verde no corpo todo) quando tropecei nos pés do lobo e bati com a cabeça no castiçal da fada madrinha fiquei maluco? Ou será que estou mesmo a ouvir música? Acho que estou mesmo a ouvir música e parecem os anões da branca de neve... bem, esta história tem mais gente do que um ministério.


CAP: VI

O dragão foi ver o que se passava, nao estava interessado numa invasão de anões. A canção era inconfundível, já se ouvia bem os anões a cantarem “eu vou, eu vou” na curva do corredor do castelo, o dragão finalmente ficou frente a frente com eles e disse:
- Onde pensam que vão? Esta história não é vossa! Passaporte por favor!
Os anões olharam bem para cima e todos esticados responderam em coro:
- És polícia?
Ao que o dragão já um bocado azedo respondeu:
- Não sou polícia, mas sou dragão, primo do crocodilo e do panda, a minha tia casou com o príncipe das orelhas de burro e sou amigo da maria que namorou o Gato das botas! Chega? Querem mais alguma informaçao?
Nesse momento o lobo mau que tinha acabado de chegar perguntou:
- O que é que se passa aqui dragão?
Ja esquecido que não falava com o lobo mau o dragao disse:
- Sao os minorcas que vieram para ficar... mas eu não vou deixar.
Mas o lobo mau estava interessado em saber quem eram os anões por isso perguntou:
- A vossa história tem lobinhas? É que a nossa princesa está fascinada com o príncipe das padarias e dos óleo dos sonhos, só porque ele tem beijos de várias cores, tamanhos, tipos e sabores tem um pés lindos fala inglês e o cavalo dele também e como isto do amor se pega eu ando à procura da minha loba-metade porque o capuchinho–vermelho acabou de me dar com os pés e partiu-me uma unha. Querem ficar????
Furioso o dragao olhou para o lobo mau e disse:
- Nao, nao e nao, a nossa historia já tem uma bruxa má uma princesa, e um príncipe, aceitamos os três porquinhos só na primavera para tu poderes fazer exercício porque não vais ao ginásio, não vamos agora aceitar esta cambada toda com espelho que fala e tudo. Isto aqui não é a casa da Joana é o Castelo dos príncipes, daqui a pouco até o Sócrates e o Mário Soares querem entrar e feios como são, ainda somos despedidos e substituídos por eles.
Com os olhos arregalados o lobo mau respondeu logo:
- Isso é que não. Logo agora que o príncipe acabou de enfrentar, tufões, furacões e bruxas? Nem pensar. Népia, façam o favor de dar de frosques.
Os anões contrariados e resmungando foram embora. Depois deste episódio em que a maioria vence (maioria porque o dragão e o lobo eram mais altos) resolveram acabar com o stress e foram dançar kizomba.


continua se tiverem paciência para tal...




quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

História sem fim,sem pés nem cabeça, sobre o reino deste mundo e do outro ao lado

 
Esta é uma história infantil para adultos com imaginação, sentido de humor e um pouquinho de loucura...





CAP.I

Era uma vez uma princesa que, chegou a esta história porque o príncipe estava muito triste. Há muitos anos que o príncipe não via a vizinha do lado, do castelo onde ele tinha morado no Reino do Mundo Diferente e também, todas as outras vizinhas que moraram nesse reino. Para evitar que o príncipe sofresse a desilusão de encontrar as vizinhas muito gordas e anafadas, a fada madrinha, que tinha tirado um curso intensivo de fada (e tinha passado com a brilhante nota de 9,5)...plim, fez aparecer a princesa, que representava todas as vizinhas que o príncipe tivera ao longo dos anos, as gordas, as magricelas, as embirrantes, as doces e até aquelas que o príncipe não queria ver nem pintadas, nao fosse o príncipe ter um trauma e ficar com tremeliques para o resto da vida. Havia apenas um pequeno problema, por culpa da bruxa má do oeste, a princesa estava trancada nas masmorras do castelo, guardada por um dragão desdentado, ja reformado e sem chama por não ter pago a conta do gás. Isso dava uma trabalheira ao pobre príncipe que tentava a todo o custo ver as vizinhas (ou seja dar um beijo na princesa que representava as vizinhas) e que não sabia nada desses dramas de dragão aposentado. Enquanto tentava distrair o dragão (que era muito bom actor e parecia mesmo muito mau) ia pensando que se a princesa, segundo constava, tinha transfomado o lobo mau em cordeirinho, podia fazer com ele, principe das padarias e dos oleos dos sonhos (que também servem para fritar o juizo) coisa bem pior. Ainda se ela lhe desse um beijo de sonho à entrada das masmorras, mesmo nas barbas do dragão (por acaso não tinha reparado se o dragão tinha barbas) mas a princesa tinha a mania d ir à praia...de repente o príncipe desesperado pensou que ainda lhe acontecia o pior, depois de enfrentar o dragão chegava às masmorras e...a princesa tinha saido para tostar a pele. E o pior de tudo é que os filhos do dragao, estavam também no castelo, porque tinham ido visitar o pai e eles tinham muito mau feitio segundo lhe tinham dito.


CAP.II


Às vezes o príncipe pensava que não tinha muita sorte porque lhe tinha calhado uma fada madrinha por condiçao e não por vocaçao. Antes de ir para fada ela pensou ir para bruxa mas estava numa fase difícil como todos os outros do reino...as vassouras eram muito caras... e como ja tinha uma varinha mágica que lhe tinham oferecido no 20º aniversário, decidiu que fada era o curso certo para ela, claro que a varinha mágica era uma moulinex e a fada queria por força fazer lindas magias com ela (sim porque a varinha tinha uma estrela na ponta, era de alta qualidade e de uma boa marca segundo um anúncio que ela tinha visto na televisão). E foi assim que depois do sorteio para distribuição das fadas madrinhas foi a fada moulinex que calhou ao príncipe (sorte ou azar...vamos ver).
Para provar ao príncipe que até se saia bem como fada, arranjou.lhe uma princesa e transformou parte do oleo dos sonhos em oleo de massagem aromatizado e protector solar para oferecer à princesa antes que ela ficasse preta de tanto sol apanhar.





A princesa dentro das masmorras estava amuada porque o príncipe nunca mais aparecia e ela nem tinha ido sair por causa dele. O lobo mau tinha dito que tinha a certeza que o príncipe subiria as escadas nesse dia. Olhou para o lobo mau que dormia enroscado pertinho da janela das masmorras por onde ela deveria atirar as longas tranças loiras...( se as tivesse o que não era o caso). A culpa era toda da fada madrinha que não a tinha defendido da bruxa má e lá estava ela sentada nas masmorras à espera de um príncipe que nunca mais aparecia. Irritada a princesa levantou-se e...finalmente o lobo mau acordou, depois de a princesa lhe ter enfiado com uma frigideira pela cabeça abaixo. O lobo coçou a cabeça e olhando para a princesa com ar de zangado pensou “ por pouco aquela traulitada provocava-me um traumatismo craniano, que ideia aquela da fada de me mandar para junto da princesa, mais valia fazer companhia ao príncipe, devia ser mais seguro e menos cansativo” . Mas quando se ama tudo se perdoa e o lobo mau amava a princesa e até se sentia um cordeirinho perto dela, por isso minutos depois, já tinha esquecido tudo e quando a princesa adormeceu em cima da cama ele olhou para ela e disse:
– Princesinha adormecida e burra, tens que aprender a reconhecer o amor, às vezes ele aparece de repente e disfarçado.
Enquanto dizia isto, uma lágrima comemeçou a brilhar no canto do olho, só não rolou pela cara abaixo porque o lobo não tem cara, tem focinho e também porque as lágrimas no pelo não resultam muito bem...nesse momento até os dragões com mau feitio, ficaram emocionados e tiveram que ir beber água. Era a hora ideal para o príncipe se passar, a princesa ja esperava há tanto tempo que as tranças ja estavam enormes (é k a historia é mesmo grande).mas o príncipe estava distraído e não aproveitou o momento. Nas masmorras e sem pele, porque tinha mandado a dele para a lavandaria (5 a sec, porque ele via o anúncio na televisão, gostava muito do cão e também achava muito fashion deixar lá a pele) de tanto olhar para a princesa, o lobo mau desmaiou e acordou mais tarde a beber um chá mto estranho e com um sabor horrível (ele gostava mais d chocolate quente mas a princesa tinha a mania do chá...)


CAP:III

Vendo que o príncipe nunca mais conhecia a princesa, a fada madrinha acabou por deitar fora a moulinex e comprou um micro-ondas para a princesa poder aquecer chocolate para dar ao lobo mau porque o lobo estava em dia não e sem querer tinha dado a pele à bruxa má do oeste e ela tinha levado a pele a lavandaria (a tal do cão) mas o ferro d engomar estava muito quente e a pele ficou um bocadinho chamuscada... a princesa ficou com pena do lobo e deu-lhe um beijo a desejar boa noite. Ainda não se sabe bem porquê mas o lobo desapareceu e apareceu o príncipe no lugar dele...devia ser um truque daqueles bem modernos (truques de cinema e televisão que ao que parece foram inventados pelo sr.Sony ou o Sr.Phillips) nesse momento o príncipe descobriu que a princesa afinal não tinha tranças nem era loira, era ruiva e tinha o cabelo curto e descobriu também que o lobo mau estava a dormir nuzinho e cheio de frio no tapete do quarto da princesa (afinal não tinha desaparecido) tinha uma mantinha por cima da cabeça e tinha os pés de fora, pobre lobo tossia, espirrava e nos intervalos dos espirros ressonava, o principe nem sabia como é que a princesa conseguia dormir com tanto barulho... (quando a pele do lobo vai à lavandaria quem sofre é a princesa...mas kem paga a conta é o lobo, porque não é reformado como o dragão)

continua...


terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O meu pai

O que escrevi hoje sobre o meu pai é dedicado ao meu padrinho com um beijo enorme


Escrita em 29/01/2008

O meu pai, foi vítima de poliomielite aos dois anos e deixou de andar quando mal tinha começado a dar os primeiros passos para a vida mas mesmo assim isso não o impediu de ser um verdadeiro diabrete. Viveu praticamente no hospital até aos onze anos mas durante o tempo que passava em casa entre uma operação e outra, tanto era capaz de fazer um jardim na sala de jantar deitando para o chão toda a terra dos vasos e espetando a plantas partidas na terra, como era capaz de fazer coisas bem piores como aos três anos enfiar a pilinha no buraco do banco da cozinha, obrigando a minha avó a correr para o hospital com ele e com o banco ao colo. Até aos onze anos fez muitos disparates e malandrices tanto em casa como no hospital e durante esse tempo foi submetido a nove operações, talvez por isso até hoje não pode ouvir falar em hospitais. Sofreu bastante porque o gesso que lhe punham nas pernas, criava bichos e a comichão era terrível mas conseguiu voltar a andar apesar de o fazer com algumas limitações pois ficou com 65% de deficiência e por esse motivo não podia correr, pular ou até fazer coisas simples como andar de bicicleta mas fazia uma coisa que até hoje acho lindo recordar, o meu pai dançava com a minha mãe e sinceramente acho que não era fácil nem para um nem para outro mas era bonito de ver, eu gostava tanto que aprendi a dançar com ele.  O meu paizinho era dono de uma inteligência acima da média e compensou o facto de andar mal com uma simpatia fora do vulgar, brincalhão por natureza era um bom conversador, adorava falar e todos gostavam de conversar com ele, fazia amizades com facilidade e não era muito difícil ver jovens sentarem-se com ele na mesa do café para darem um pouquinho à língua, tanto podia ser sobre a escola, como sobre amores, como sobre desentendimentos com os pais ou até sobre actualidades. Mas a vida não é justa e há uns anos o meu pai teve um AVC. Olhando para estas três letras que parecem inofensivas”AVC”, não parece possível ver quem amamos perder algumas capacidades por causa de três letras que afinal são terríveis, pois querem dizer acidente vascular cerebral. Aconteceu e o meu pai deixou de falar há sete anos, tenho saudades de o ouvir cantar para a minha mãe, tenho saudades das piadas que ele contava, tenho saudades dos conselhos que ele me dava mas tenho o meu pai lindo que apesar de tudo consegue, rir de um disparate ou de uma anedota e consegue sorrir com brilho nos olhos quando olha para mim, quando olha para a minha filha ou quando simplesmente em jeito de mimo estica o pescoço para dar um beijo à minha mãe.



Escrita em O9/O2/2006

Pai, hoje fazes 77 anos e neste dia especial, esta carta de amor é para ti.

Queria escrever-te coisas bonitas...mas não sei como começar.
Queria dizer-te o orgulho que sinto por seres meu pai...mas nunca conseguirei dizer quanto.
Queria agradecer-te por nunca me teres ralhado ou batido, por sempre me teres entendido e por tudo o que me deste...mas nunca vou agradecer o suficiente.
Queria falar-te da beleza e doçura que a idade deu ao brilho aos teus olhos…mas nunca serei capaz de pintar esse brilho com palavras.
Queria contar-te o quanto me soube bem o abraço que me deste hoje...mas nunca encontrarei as palavras certas
Afinal, paizinho, quero apenas dizer que te amo e dar-te um beijo de parabéns no dia do teu aniversário


Nixa




segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Conversando com as amigas

Tu Luzinha, minha amiga de Luanda, vizinha, confidente, companheira e irmã. Foi contigo que eu ri, foi contigo ao lado que conquistei alguns rapazinhos desprevenidos ou mostrei indiferença a outros, foi contigo que fiz algumas maluquices como ficar trancada no elevador do prédio alto em frente à escola porque a porteira nos viu passar e decidiu que parar o elevador no 8º andar era um belo castigo,
Foi na tua companhia que andei de mini Honda por todas as ruas do bairro rindo de tudo e de nada e foi, com saudades tuas que chorei amargamente, quando descobri que o Porto não ficava do outro lado da minha rua em Lisboa. Lembras-te amiga, das longas cartas que tínhamos que escrever para contarmos uma à outra tudo o que se passava? Essas cartas ocupam hoje em minha casa um saco de viagem. Lembras-te das dificuldades que os nossos pais passavam devido à falta de emprego? Lembras-te das saudades que sentíamos dos amigos, das nossas casas tão perto uma da outra, do nosso bairro e da nossa Luanda? Lembras-te como mesmo longe partilhávamos 100 ou 200 escudos que algum familiar nos oferecia? Lembras-te de como esse dinheiro servia para comprarmos selos que dividíamos pelas duas? Por tudo isso ainda hoje somos amigas, estás e estarás sempre no meu coração e serás sempre a minha “mana” que eu amo. Obrigada Luísa pela tua amizade.
E tu Zezinha? Minha amiga de muitos anos, também tu m fizeste rir muitas vezes e foi no teu ombro que chorei tristemente alguns dos meus problemas. Acho que foi contigo que eu casei porque estamos juntas todos os dias 8 horas por dia desde Janeiro de 1981 fizemos já as bodas de prata. Também já passamos por algumas dificuldades juntas e estamos sempre dispostas a partilhar, problemas e alegrias o muito e o pouco.
Quero dizer-te que te considero uma pessoa especial agradeço-te todo o carinho e amor que me deste ao longo destes anos de amizade, agradeço-te principalmente, o amor que tens pela minha princesa, esse amor que a ajudou tantas vezes a sentir-se mais forte e menos rejeitada quando outras pessoas lhe mostravam menos amor e falta de atenção. Obrigada pela paciência que tens para me aturar, és a minha amiga do coração que eu amo muito.
Um beijo grande às duas amigas da minha vida, mulheres fortes, lindas, corajosas e que enfrentam as dificuldades sempre com um sorriso



domingo, 27 de janeiro de 2008

Amor desejado

Quando a noite chega...
Quando a lua manda...
Desejo que fiques comigo...e não ficas...
Quando as estrelas se olham ao espelho no mar...
Quando a montanha é beijada pelo sol...
Desejo que a luz do teu sorriso esteja por perto...e não está
Quando a pequena flor rompe a terra para espreitar a vida...
Quando a chuva bate forte na janela...
Desejo o carinho do teu beijo...e não tenho
Quando as sombras bailam como feiticeiras...
Quando o mar canta suavemente...
Desejo sentir a tua mão no meu cabelo...e não sinto
Quando o céu é azul...
Quando tudo está em silêncio
Desejo que chegues...e não chegas
Mas sei que onde estás, precisas do meu amor tal como preciso do teu...
Sei que também tu queres a minha presença, como eu quero a tua...
Sei que me amas, como eu t amo...
Então lentamente e em silêncio...ofereço-te o meu coração e carinhosamente...espero por ti, com amor


sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Um amigo




Hoje vou contar uma historia de alguém especial, alguém k muitas vezes namorou debaixo do meu Jueirinho(este era o nome do meu cajueiro), alguém que alguns beijos deu à amada namorada, protegido pelo seu forte tronco e que trocou vezes sem conta juras de eterno amor testemunhadas apenas por mim, uma jovem adolescente e pela minha querida e abençoada árvore. Falo do Nelo Rigor um jovem do Calulo em Angola que vivia no Bairro Popular na cidade de Luanda, de quem eu tenho o privilégio de ser amiga e que deixou até hoje boas recordações no meu coração. O Nelito era um doce de rapaz, era o namorado perfeito, o apaixonado mais bonito do bairro lembro-me de achar, nessa época que quando tivesse um namorado queria que fosse igual ao Nelo, pois ele era um achado, simpático, elegante, alegre, carinhoso um verdadeiro galã. Nessa época, havia um concurso nos bailes do clube do Bairro Sarmento Rodrigues em que os rapazes para dançarem com uma rapariga tinham que ter umas senhas, previamente compradas e que serviam para disputarem entre si as raparigas mais giras ou mais requisitadas do baile durante duas ou três danças por domingo. Ao fim de algumas semanas ganhava o concurso a rapariga que tivesse mais senhas. Claro que normalmente quem namorava não concorria para os rapazes não lhe pedirem para trocar de par com uma senha, pois os namorados não iam nessa conversa mas o Nelo era um namorado diferente, ele comprava senhas e disputava a sua amada com outros rapazes durante essas danças, dando assim à namorada a oportunidade de concorrer e mostrando dessa forma o quanto gostava dela. Infelizmente este belo namoro, por motivos que não vou referir agora não teve um final feliz como eu desejava. Tempos mais tarde o Nelito sofreu um grande acidente de viação que lhe deixou marcas graves no corpo e que modificaram a sua vida para sempre mas apesar do que aconteceu ele continua até hoje o mesmo Nelito, amigo, doce e bem-disposto que eu conheci. Não vejo o Nelo Rigor desde 1975 mas quando falo com ele ao telefone parece que o vi passar na minha rua horas antes sinto nessas duas ou três conversas anuais, o quanto ele é meu amigo passados todos estes anos e o quanto eu gosto dele e já que ele não teve o merecido diploma de “O bom namorado” escrevo eu aqui o diploma de “Coragem e amizade”.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Dia de praia



Praia das Palmeirinhas


Corpos morenos,
brilhantes e serenos.
Corpos molhados,
quentes e apaixonados.
Corpos vadios,
vibrantes e esguios.
Corpos sensuais,
de jovens, avós e pais.
Corpos de todas as maneiras,
deitados na areia e em esteiras.
Corpos divertidos,
de namorados e amigos.
Corpos de amores,
feiticeiros e sonhadores.
Corpos que se libertam para amar.
Corpos que explodem na garganta a segredar.
Corpos que gritam com o olhar.
Corpos que ondulam ao andar.
Corpos que estão em sintonia com o mar.
Corpos que fazem o sol murmurar.
Corpos que obrigam a praia a cantar

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O meu Trinitá

Hoje de manha quando cheguei ao quintal, fiquei ali à toa a olhar para o céu, aquele azul, verdadeiramente azul céu beijou-me, respirei fundo com vontade de guardar dentro dos pulmões aquele ar e dentro das narinas aquele cheiro doce em seguida, olhei para o lado e vi que o trinitá vinha na minha direcção. Ele chegou com aquele inconfundível ar descontraído, encostou-se à minha perna nua que a curta mini saia não tapava e fazendo uma suave pressão contra ela, lambeu-me o pé descalço deitando-se feliz a olhar para mim, como se estivesse a sorrir. Não era o “Trinitá… Trinitá”, que faz inveja aos rapazes e faz suspirar as raparigas mas sim o meu gato que tem um olho azul e outro verde e que por esse motivo se chama trinitá, uma vez que o verdadeiro Trinitá tanto nas revistas como nos cartazes espalhados pela cidade umas vezes tem olhos azuis e outras vezes tem olhos verdes. Encontrei o trinitá num terreno em frente ao Clube do Sarmento Rodrigues, pequenino e cheio de fome a miar como se fosse um lamento, provocando uma maca das grandes no meu coração, apaixonei-me por ele para sempre. O meu trinitá veio para minha casa para reinar, é o gato mais bonito do bairro, à noite ele sai, atravessa quintais para ir brincar ou namorar as gatas vizinhas outras vezes passeia no capim apenas para fazer amizade com as rãs que habitam os charcos depois das chuvas. De madrugada, regressa a casa entrando pelos losângulos abertos da varanda e, de mansinho deita-se na minha cama, sujando os lençóis com terra vermelha e salpicando toda a cama de picos redondos, como que a terminar a sua obra prima, o que faz com que a minha mãe, logo de manhã, fique de cabelos em pé dando assim largas à imaginação inventando ameaças terríveis que não assustam o destemido, malandro, lindo e indolente trinitá que impávido se deita ao sol conseguindo fazer um ar ausente ao mesmo tempo que está atento a tudo o que se passa.


Saudades de ti querido gatinho.



Os gatinhos são feitos
De:
30% de encanto
29% de travessuras
28% de ronrom
10% de pêlo
3% de inocência

"Todos os raios de sol encontram um gato"

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

As mães do meus vizinhos

pequena homenagem a duas vizinhas que marcaram a minha infância e adolescência


Fui viver para Luanda, para o Bairro Sarmento Rodrigues em Janeiro de 1965, tinha nessa altura 5 anos e a primeira “mãe vizinha” que conheci foi a mãe dos irmãos Fialho, uma senhora doce de voz calma que chamava à minha mãe um nome engraçado (a minha mãe chama-se Antonieta, muita gente lhe chama Neta mas ela arranjou um nome especial que era só dela "Dona Antonica" ) Ela gostava muito de fazer chá e o chá de príncipe, era o seu favorito, para dizer a verdade chá de príncipe é horrível mas na casa dela sabia muito bem acho até que era o melhor e mais perfumado chá do mundo e arredores. Vivi nessa casa durante um mês e quando me lembro da D. Maria ainda vejo a delicadeza com que tratava a flores sinto o cheiro do seu chá no ar, ainda vejo o seu sorriso meigo e ainda consigo ouvir a voz dela a dizer “D.Antonica venha com a Nixinha beber um chá de príncipe que eu vou fazer agora!” desses dias ficou uma recordação doce e uma amizade verdadeira. Mudei para junto do cajueiro, a segunda árvore mais bonita do bairro (a primeira era o imbondeiro) e foi nessa rua que conheci a segunda “mãe vizinha”, a mãe do Armelim, uma senhora alegre e bem- disposta dona de fortes gargalhadas que soavam na rua inteira. Ela adorava rir e quando ria, riam com ela, o cajueiro, as casas e a rua, para dizer a verdade nunca mais ouvi gargalhadas como as dela, acho até que eram as gargalhadas mais bonitas e felizes do planeta. Vivi ao lado das contagiantes gargalhadas da D. Júlia até me vir embora e quando me lembro dela acabo sempre por sorrir com a recordação daquele som que nos fazia bem ouvir. Eram duas senhoras diferentes mas eram especiais e tanto uma como outra deixaram a sua marca no meu coração de uma forma muito bonita. As mães dos meus vizinhos mais queridos eram pessoas simples como tantas outras pessoas simples que moravam no meu lindo bairro, simples mas acolhedor onde coisas simples como um chá e uma gargalhada, nos faziam sentir felizes apesar de só descobrirmos isso mais tarde.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Joana Maluca ou talvez não...

Homenagem a uma personagem misteriosa da minha infância conhecida por todos os habitantes de Luanda.


Há quem diga que a Joana, foi em tempos uma jovem muito inteligente e estudiosa que por tanto estudar, teve um esgotamento. Outros dizem que a Joana era uma rapariga linda que se apaixonou por um branco e que no dia do seu casamento teve um desgosto que a fez enlouquecer de dor, nesse dia, o homem que tanto amava morreu de acidente. Não sei qual das versões é a verdadeira, sei apenas que hoje, em toda a cidade de Luanda ela é a Joana Maluca que nos assusta e me fascina. Há pouco quando vinha do colégio Santo Expedito com as minhas colegas, fiquei de repente, frente a frente com a Joana Maluca, as minhas colegas gritavam “Joana Maluca, Joana Maluca” e saltavam como doidas em correrias frenéticas para a esquerda e para a direita, enquanto eu, colada ao chão não me mexi nem falei, fiquei ali, enfeitiçada, a olhar para ela descalça, pano estampado enrolado no corpo magro, rosto marcado por rugas e adornado por olhos inquietos, pequenos mas faiscantes. Foi nessa altura que a minha imaginação me levou ao quarto dela, cheio de livros cadernos, mapas de Angola, Moçambique e Portugal Continental, vi a Joana sentada a estudar em livros enormes que nem o gigante Gabriel conseguia meter debaixo do braço para levar para a escola, pensei encantada como ela devia saber bem os nomes dos rios e das linhas de caminhos de ferro que me davam tanto trabalho a decorar. Ainda sem me mexer voei para o dia do casamento dela e vi no espelho do quarto uma jovem deslumbrante e sorridente com um lindo vestido de noiva branco que realçava a cor da sua pele. Os gritos das minhas colegas obrigaram-me a regressar da minha visita ao passado da Joana Maluca, nesse momento vi a Joana correr com um pau enquanto rogava pragas terríveis a cada uma de nós, fazendo em seguida uma cruz no chão e cuspindo para cima dela. Instintivamente, fiz figas e afastei-me enquanto a Joana ficou a resmungar qualquer coisa. Olhei de novo para ela e reparei que ela olhava para mim, pareceu-me ver um sorriso nos seus lábios e pareceu-me também que os seus olhos me diziam que aquelas pragas todas não me iam fazer mal. Voltei para casa com a certeza que a Joana Maluca é uma feiticeira boa que faz de conta que é má e que sabe que eu descobri o seu segredo mas não vou contar.



…ainda hoje me lembro da Joana com saudade…


sábado, 19 de janeiro de 2008

Sons de Poemas

Escrito em 19/10/2006 para explicar à minha amiga Nina, que nunca viveu em Luanda, porque motivo o Bairro Sarmento Rodrigues e o Bairro Popular ainda vivem na nossa pele, depois de mais de 30 anos.




A quitandeira deslizando passou
Pé descalço no chão molhado
Abanando os panos nas ancas cantou
Um pregão doce e encantado

No fundo da rua a algazarra começou
Os candengues felizes saltavam e corriam
Gritando bem alto "o carro do fumo chegou"
Segundos depois os mosquitos já não zumbiam


O som do merengue perdido numa sala
"Brinca n'areia"fazia eco na rua inteira
Cadernos fechados esperavam na mala
Que terminasse a música e a brincadeira


Os rolamentos dos carrinhos saltavam
Barulhentos os meninos conduziam
Nas corridas muitas vezes se esfolavam
Pouco atentos ao que as mães lhes diziam

Não havia TV,só papagaios e bicicletas
A linda falua que lá vem, pára-quedas
Escondidas, cabra cega e felizes gargalhadas
Elásticos, cumplicidade, arcos e flechas

Uma goiaba madura que caía no chão
Um morcego assustado que fugia
Pombos que faziam do gindungo uma refeição
Enquanto em silêncio o Bairro dormia


São estes os sons que todos nós conhecemos
Sons, que no silêncio quase podemos tocar
Que tantos anos depois ainda queremos
Que ainda hoje nos ajudam a sonhar




sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Segunda carta de amor a Luanda



Esta carta foi escrita em 11/02/2006


Está a chegar o dia dos namorados para comemorar o dia, escrevem-se cartas e postais a quem se ama, por isso decidi escrever uma carta de amor a Luanda e a quem lá viveu e celebrar assim o dia dos namorados neste ano de 2006



Princesas e príncipes do país do sol...fechem os olhos...e sintam...

O cheiro das goiabas no ar...
O sabor doce das mangas maduras...
O abraço apaixonado e quente do sol...
Os beijos de pitangas acabadas de apanhar...
O sorriso malandro da terra vermelha...
O amor que passa no cesto da quitandeira...
Os segredos bem guardados das acácias...
Os feitiços estudados da kimbanda lua...
Os belos cantos de prazer da chuva...
As queimadas de fogo renascido, na chama das nossas vidas...
O mar de sonhos, que conta aos rios e fontes, a sede dos nossos corações...
O pôr-do-sol que deslumbra e nos toca bem fundo, mostrando toda a sua magia...
Os encantos de um mundo colorido, que espalha no nosso coração diamantes de, sinais e recordações...locais e datas...memórias e afectos...marés e luares...amores e paixões...cheiros de terra molhada e frutos maduros... fazendo de nós seus eternos namorados.



Nixa


quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

carta de amor a Luanda


Esta carta foi escrita em Junho d 1975

Minha querida Luanda

Sabes bem que nasci em Lisboa mas que parti para junto de ti aos 5 anos. Talvez, por aí ter passado a maior parte da minha vida, me considero até hoje tão tua. Há 5 meses, por motivos imprevistos os meus pais pensaram voltar para Lisboa, sabes também querida Luanda que não fiquei nada contente com a ideia mas tive que vir, só não sabes a tristeza enorme k senti quando o barco atracou, lembrei-me tanto d ti naquele momento e senti que nunca vou amar Lisboa como t amo.
Já contactei com algumas pessoas e também vi um pouco da cidade mas é tudo diferente do que eu estava habituada a ver, tudo se mistura na minha cabeça e no meu coração. Querida Luanda, estou desorientada, sinto a falta dos beijos do teu sol, do teu cheiro e dos teus sons.
As notícias sobre ti não são nada boas e isso ainda me faz ficar mais triste. Lembro-me dos meus amigos com saudade, nem sei se eles estão bem. Sinto vontade de gritar e chorar sinto uma revolta imensa, passaram-se 5 meses mas ainda não me habituei nem às pessoas nem à cidade. Ninguém me compreende, só quem passou o mesmo que eu e esses, estão longe espalhados pelo país.
Que saudades, minha querida Luanda...
Um xi-coração bem apertado e mil beijos no teu chão que eu amo, na tua lua enorme que eu adoro, no teu mar imenso espelhado e lindo e no teu sol que aquece mais do que este aqui.



Nixa


quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O imbondeiro

primeira parte

Altivo e orgulhoso do seu tamanho, o jovem antigo imbondeiro, espreitava a cidade lá do cimo dos seus ramos. Ele guardava religiosamente o Bairro Popular e o Sarmento Rodrigues dia e noite, protegendo-os com o seu abraço. Adorava os dois bairros que o amavam e que fervilhavam de gente que ria, chorava e se sentia em casa, tal como ele.
Com ar matreiro, franzia o sobrolho quando o sol lhe batia de frente, ria à gargalhada quando um pequeno salalé lhe fazia cócegas ao subir pelo seu tronco forte e deixava cair uma lágrima, emocionado, enquanto olhava a beleza do pôr do sol.
O imbondeiro passava horas, a olhar divertido para as pessoas que corriam, para a paragem do maximbombo e as que atravessavam o largo onde ele estava instalado, também via quem entrava e saía da mercearia, mais conhecida pela loja vermelha, devido à cor das suas portas. Como ele gostava de ver os jovens que passavam para irem jogar à bola, para a Defesa Civil e raro era o dia, em que não se achava capaz de jogar melhor do que eles e até de marcar vários golos. O simpático imbondeiro, tinha pena de não dar uma palavrinha à "Joana Maluca" e tinha um enorme desgosto de não poder comer pão, porque o cheirinho que vinha todas as manhãs do depósito do pão era mesmo irresistível.

Às vezes, distraía-se a ver umas coisinhas que ele não sabia como se chamavam mas que caiam do céu, uma vez tinha ouvido dizer que eram pessoas que saltavam de um avião mas ele pensava que isso não era possível, porque estava farto de ver pessoas e nunca tinha visto uma com asas.
O dia da semana que ele mais gostava era o domingo. Ao domingo iam muitas pessoas à missa e à hora de almoço, havia quase sempre no ar, um cheirinho bom a churrasco bem picante, à tarde passavam todos para o baile, sempre muito bonitos e sorridentes. Os namorados muito apaixonados, às vezes paravam mesmo encostadinhos a ele, beijando-se carinhosamente e trocando doces palavras enquanto ele os protegia dos olhares indiscretos dos vizinhos. E as brincadeiras das crianças ao fim da tarde? Isso sim, era muito bonito e ele também brincava com as crianças, era o coito porque como era muito grande não se podia esconder...
O imbondeiro recebia a chuva fazendo engraçadas caretas e durante uma trovoada tentava ficar quietinho. Ele não gostava nada de trovoadas porque tinha ouvido dizer muito mal dos relâmpagos, diziam que eles tinham mau feitio, por isso nessas alturas, desejava ser um pouco mais baixo para os relâmpagos não o verem, como isso não era possível tentava passar despercebido.
Se havia coisa da qual ele se orgulhava, era do seu nome. Por vezes, achava que tinha nome de rei uma vez que o seu nome se podia escrever de duas maneiras "embondeiro e imbondeiro" ele estava mesmo convencido que era uma arvore de" seiva azul", porque até a sua flor era diferente, tinha uma flor linda, branca como a neve, delicada, mto graciosa e que não deixava as pessoas indiferentes. Também o seu fruto era um enigma mas fazia as delicias das crianças que ao regressarem da escola se apressavam a ir até junto dele para ver se conseguiam apanhar um "rato" era o nome que às vezes davam à mukua, por ser um fruto grande e por ficar pendurado como um rato preso pela cauda. Ele ficava com o coração em festa, quando as crianças abriam a múkua e iam saboreando cada pedacinho enquanto riam e o faziam sentir que não era preciso muito para ser feliz.
Todos os moradores estavam habituados a ele e gostavam de ter por vizinho um imbondeiro imponente, protector, sensível, disponível, brincalhão e por vezes até confidente e cúmplice, no fundo, o imbondeiro fazia parte das suas vidas, era um amigo.
Mas...

sim esta história tb tem um" mas", aliás tem dois "mas" como vão ver mais à frente...Um dia, estava o imbondeiro a acabar de acordar, quando chegaram ao largo uns senhores que ele não conhecia, com uma maquina muito grande e muito estranha e nesse dia, aconteceu o pior, os bairros, ficaram sem o velho jovem imbondeiro. Que saudades deixou naquele largo, que sem ele parecia maior e incompleto. O imbondeiro foi sacrificado porque a civilização imperturbável assim o exigiu, tinha chegado a época do alcatrão. Foi também a civilização ou talvez a falta dela que anos mais tarde fez com as pessoas que o imbondeiro tanto amava o mesmo que tinha feito com ele anteriormente, tb elas tiveram que partir sem serem consultadas, sem ouvirem os seus pedidos, sem se importarem com os seus desejos e sonhos.
Infelizmente a vida é assim por isso, a natureza cria recantos idílicos que a civilização no seu galope louco estraga e as pessoas criam catedrais onde as suas raízes, sorrisos e afectos crescem e se entrelaçam e quando a "não civilização" passa indiferente tudo termina em dor e saudade...
Mas…
mas...a história não termina assim. Hoje, o imbondeiro tem uma vida muito diferente mas é de novo feliz. Já não é imponente como antigamente mas continua cúmplice, amigo, sensível, disponível e confidente além disso agora é um ninho. Sim ele é um pequeno e simpático ninho em forma de mesa rústica e banco, situado no recreio de uma escola onde diariamente os alunos se aninham como que à espera da sua protecção. De manha os alunos chegam a correr e vão para as aulas, ele espera pacientemente que toque para o intervalo e nessa altura, os alunos correm na sua direcção para comerem o lanche ou para falarem dos seus sonhos, por vezes contam a rir como a professora de Geografia se engasgou a tossir ou a malandrice que fizeram na aula do professor de História mas o melhor, é que ainda participa nas brincadeiras, continua a ser o coito e ele gosta disso. Depois das aulas, tem como amigo nocturno o cão de guarda da escola, a quem gosta de contar a sua história antes de irem dormir. Conta o imbondeiro que quando o arrancaram pensou que morria, depois ouviu dizer que iam fazer dele uma piroga bem grande para ficar na zona do Morro dos Veados mais tarde chegou uma encomenda da escola e ele foi transformado numa mesa redonda enorme com um grande banco à volta. Foi assim que o destino do imbondeiro mudou, hoje esta feliz, tem os seus meninos e o seu amigo cão e como esta mais baixo já nem tem medo dos relâmpagos mas as saudades do largo e das pessoas continua viva no seu coração de madeira. Tal como o imbondeiro, as pessoas mudaram, são os mesmos mas estão diferentes, existem novos amigos e a família aumentou mas também eles não esqueceram e as saudades continuam. À noite, enquanto o sono não vem ou quando olham para as estrelas tanto o imbondeiro como eles pensam voltar um dia. Não para voltarem atrás no caminho, não para viverem o que não viveram, não para fazerem o que não fizeram mas sim para apanharem do ar o sabor a mel dos seus sonhos e para pisarem de novo o chão macio das suas vidas encontrando assim as suas raízes...


FIM (ou apenas o principio de uma nova historia)