Escrito em 19/10/2006 para explicar à minha amiga Nina, que nunca viveu em Luanda, porque motivo o Bairro Sarmento Rodrigues e o Bairro Popular ainda vivem na nossa pele, depois de mais de 30 anos.
A quitandeira deslizando passou
Pé descalço no chão molhado
Abanando os panos nas ancas cantou
Um pregão doce e encantado
No fundo da rua a algazarra começou
Os candengues felizes saltavam e corriam
Gritando bem alto "o carro do fumo chegou"
Segundos depois os mosquitos já não zumbiam
O som do merengue perdido numa sala
"Brinca n'areia"fazia eco na rua inteira
Cadernos fechados esperavam na mala
Que terminasse a música e a brincadeira
Os rolamentos dos carrinhos saltavam
Barulhentos os meninos conduziam
Nas corridas muitas vezes se esfolavam
Pouco atentos ao que as mães lhes diziam
Não havia TV,só papagaios e bicicletas
A linda falua que lá vem, pára-quedas
Escondidas, cabra cega e felizes gargalhadas
Elásticos, cumplicidade, arcos e flechas
Uma goiaba madura que caía no chão
Um morcego assustado que fugia
Pombos que faziam do gindungo uma refeição
Enquanto em silêncio o Bairro dormia
São estes os sons que todos nós conhecemos
Sons, que no silêncio quase podemos tocar
Que tantos anos depois ainda queremos
Que ainda hoje nos ajudam a sonhar
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