segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

As mães do meus vizinhos

pequena homenagem a duas vizinhas que marcaram a minha infância e adolescência


Fui viver para Luanda, para o Bairro Sarmento Rodrigues em Janeiro de 1965, tinha nessa altura 5 anos e a primeira “mãe vizinha” que conheci foi a mãe dos irmãos Fialho, uma senhora doce de voz calma que chamava à minha mãe um nome engraçado (a minha mãe chama-se Antonieta, muita gente lhe chama Neta mas ela arranjou um nome especial que era só dela "Dona Antonica" ) Ela gostava muito de fazer chá e o chá de príncipe, era o seu favorito, para dizer a verdade chá de príncipe é horrível mas na casa dela sabia muito bem acho até que era o melhor e mais perfumado chá do mundo e arredores. Vivi nessa casa durante um mês e quando me lembro da D. Maria ainda vejo a delicadeza com que tratava a flores sinto o cheiro do seu chá no ar, ainda vejo o seu sorriso meigo e ainda consigo ouvir a voz dela a dizer “D.Antonica venha com a Nixinha beber um chá de príncipe que eu vou fazer agora!” desses dias ficou uma recordação doce e uma amizade verdadeira. Mudei para junto do cajueiro, a segunda árvore mais bonita do bairro (a primeira era o imbondeiro) e foi nessa rua que conheci a segunda “mãe vizinha”, a mãe do Armelim, uma senhora alegre e bem- disposta dona de fortes gargalhadas que soavam na rua inteira. Ela adorava rir e quando ria, riam com ela, o cajueiro, as casas e a rua, para dizer a verdade nunca mais ouvi gargalhadas como as dela, acho até que eram as gargalhadas mais bonitas e felizes do planeta. Vivi ao lado das contagiantes gargalhadas da D. Júlia até me vir embora e quando me lembro dela acabo sempre por sorrir com a recordação daquele som que nos fazia bem ouvir. Eram duas senhoras diferentes mas eram especiais e tanto uma como outra deixaram a sua marca no meu coração de uma forma muito bonita. As mães dos meus vizinhos mais queridos eram pessoas simples como tantas outras pessoas simples que moravam no meu lindo bairro, simples mas acolhedor onde coisas simples como um chá e uma gargalhada, nos faziam sentir felizes apesar de só descobrirmos isso mais tarde.

Sem comentários: