domingo, 20 de janeiro de 2008

Joana Maluca ou talvez não...

Homenagem a uma personagem misteriosa da minha infância conhecida por todos os habitantes de Luanda.


Há quem diga que a Joana, foi em tempos uma jovem muito inteligente e estudiosa que por tanto estudar, teve um esgotamento. Outros dizem que a Joana era uma rapariga linda que se apaixonou por um branco e que no dia do seu casamento teve um desgosto que a fez enlouquecer de dor, nesse dia, o homem que tanto amava morreu de acidente. Não sei qual das versões é a verdadeira, sei apenas que hoje, em toda a cidade de Luanda ela é a Joana Maluca que nos assusta e me fascina. Há pouco quando vinha do colégio Santo Expedito com as minhas colegas, fiquei de repente, frente a frente com a Joana Maluca, as minhas colegas gritavam “Joana Maluca, Joana Maluca” e saltavam como doidas em correrias frenéticas para a esquerda e para a direita, enquanto eu, colada ao chão não me mexi nem falei, fiquei ali, enfeitiçada, a olhar para ela descalça, pano estampado enrolado no corpo magro, rosto marcado por rugas e adornado por olhos inquietos, pequenos mas faiscantes. Foi nessa altura que a minha imaginação me levou ao quarto dela, cheio de livros cadernos, mapas de Angola, Moçambique e Portugal Continental, vi a Joana sentada a estudar em livros enormes que nem o gigante Gabriel conseguia meter debaixo do braço para levar para a escola, pensei encantada como ela devia saber bem os nomes dos rios e das linhas de caminhos de ferro que me davam tanto trabalho a decorar. Ainda sem me mexer voei para o dia do casamento dela e vi no espelho do quarto uma jovem deslumbrante e sorridente com um lindo vestido de noiva branco que realçava a cor da sua pele. Os gritos das minhas colegas obrigaram-me a regressar da minha visita ao passado da Joana Maluca, nesse momento vi a Joana correr com um pau enquanto rogava pragas terríveis a cada uma de nós, fazendo em seguida uma cruz no chão e cuspindo para cima dela. Instintivamente, fiz figas e afastei-me enquanto a Joana ficou a resmungar qualquer coisa. Olhei de novo para ela e reparei que ela olhava para mim, pareceu-me ver um sorriso nos seus lábios e pareceu-me também que os seus olhos me diziam que aquelas pragas todas não me iam fazer mal. Voltei para casa com a certeza que a Joana Maluca é uma feiticeira boa que faz de conta que é má e que sabe que eu descobri o seu segredo mas não vou contar.



…ainda hoje me lembro da Joana com saudade…


1 comentário:

Unknown disse...

AMIGA ELENA ELE MORREU PASSADO ALGUM TEMPO SEM PRIMEIRO LHE TIRAR A FILHA DE AMBOS