quarta-feira, 30 de abril de 2008

És...



1ªfoto:alegria na relva :)






2ª foto: no baile de finalistas com o melhor amigo





3ª foto: com o amor que sente por mim ao cubo no lado direito e ao cubo no lado esquerdo :)




(mais uma coisa escrita no armário do quarto de banho)


És a princesa mais bela, das mais belas princesas.

És o conto de fadas com a magia perfeita e com o final mais feliz.

És a alegria da primavera e o calor do verão.

És uma estrela cadente a preto quando estás trajada e és uma estrela colorida que dá brilho a quem está por perto.

És um doce quando queres (quase sempre) achas que sou nova e não deixas que me chamem cota.

És a minha filha favorita (apesar de seres a única) e por isso agradeço a Deus por me ter escolhido para tomar conta de ti.

És especial porque desde pequenina que me ensinas que quem acredita vence e quem ama sorri.

É um privilégio ser tua mãe.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Crise negra da vida


24 de Abril de 2008



No meio do barulho da televisão com o som muito alto e do barulho dos clientes que conversavam alegremente, sentei-me sozinha no café. Mal me sentei os meus problemas atacaram com força, ocupando teimosamente os meus pensamentos como se fossem donos e senhores daquele pequeno território. Por instanstes, deixei de ouvir o que se passava dentro do café e acabei perdida no meio de um turbilhão de pensamentos idiotas e de ideias luminosas que na minha opinião, poderiam resolver brilhantemente uma crise negra da vida instalada no meu colo, a mais recente de tantas outras crises negras já passadas. Sentada numa mesa, perto de uma porta castanha fechada, olhei distraída para a rua, pelos vidros retangulares da porta. Lá fora o sol ainda brilhava intensamente, olhando para ele as minhas ideias luminosas foram abandonando a minha cabeça e fiquei ali, quieta com a crise negra ao colo, a olhar o movimento mágico da rua. Os carros andavam uns atrás dos outros muito certinhos como se estivessem todos amarrados por um fio ou como se algum íman os puxasse. Uns iam para lá, outros vinham para cá, uns passavam por baixo e outros passavam por cima. Todos eles levavam gente, alguns com crises negras da vida como a minha, outros com momentos felizes mas dentro dos carros pareciam apenas bonecos, sem vontade própria, sem alegrias sem problemas e até sem sentimentos. Do outro lado da estrada, descobri um jovem com cerca de 16 anos, esse sim parecia ter um problema, com tantos carros que passavam e sem uma passadeira por perto ele não conseguia atravessar a rua. O jovem parecia ansioso e andava quase desesperado de um lado para o outro do passeio à espera de um "furo" no trânsito. O sol batia na sua t'shirt laranja e parecia querer atravessar a rua com ele. Finalmente os carros foram puxados por outro íman, para outras ruas e deixaram livre a rua enorme, como se fosse uma passadeira gigante. Com um sorriso enorme o jovem desceu do passeio e correu na direcção da porta castanha do café. Só nessa altura reparei numa jovem de cabelo dourado que se colou à t'shirt laranja e ao sol que vinha com o dono da t'shirt. Um beijo inocente foi dado e presenciado por mim, pela porta castanha fechada e pelo sol. Mentalmente agradeci aos jovens, à t'shirt, à porta e ao sol que me fizeram sorrir, empurrando a crise negra para fora dos meus pensamentos por uns bons minutos.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Cascais


Mudar para Cascais em Agosto não tornou a minha vida mais fácil nem me fez esquecer o que vivia presente no meu coração mas aumentou o tamanho do céu e do espaço, senti-me menos apertada, mais livre. Além disso descobri em Cascais, no horizonte, enquanto olhava para o mar, o ponto exacto onde Angola começa e isso deu-me uma paz que há muitos meses não sentia, esse ponto permitiu que me sentisse menos longe dos meus amigos e do chão que eu amava. A partir desse dia olhar para aquele ponto de Cascais, ajuda-me em momentos maus, dá-me coragem em dias de desalento e dá-me o bem precioso de acreditar que afinal Angola está tão perto que é possível voltar um dia destes. Mas voltando à minha chegada à zona do mar e do céu mais azul, aqui tudo era diferente da cidade tão fria e triste mas as dificuldades continuavam. O meu pai procurava um trabalho que teimava em não aparecer a minha mãe desesperava porque pensava que já tinha sido enganada na compra da mobília de quarto que nunca mais aparecia e eu que tanto sonhava ter 16 anos continuava perdida e sem amigos. Na rua de S. Bento havia uma loja de móveis que ficava mesmo por baixo da casa onde vivemos depois de chegarmos a Lisboa, antes de virmos para a casa nova a minha mãe comprou uma mobília de quarto para ela e para o meu pai, não comprou para mim porque uma das minhas condições para sair de Luanda com menos “fitas”, foi trazer a minha mobília de quarto, bem tentaram mas não me convenceram a ficar sem ela, para falar verdade eu não me queria separar de nada e Luanda só não veio no bolso ou num caixote porque não cabia. Voltando novamente à mobília de quarto dos meus pais que por não aparecer os obrigou a dormir no chão durante semanas, uma vez que quando a minha mãe telefonava, na loja o telefone tocava mas ninguém atendia. Um dia quando a minha mãe já desesperava e achava que tinha mais azar do que um porco sem lama para se deitar, alguém atendeu o telefone e tudo ficou esclarecido menos a maldade pura e gratuita que tinha levado aquela história tão longe. O que tinha acontecido era inacreditável, o dono da loja tinha combinado com a minha mãe entregar a mobília num determinado dia, que por acaso era o seu último dia de trabalho antes das férias e só não fez a entrega conforme estava combinado porque a sua simpática vizinha do andar de cima a nossa ex-senhoria do quarto alugado e dos baldes em fila no quarto de banho, tinha descido as escadas com grande esforço e abnegação e o tinha informado que a minha mãe lhe tinha ligado para dizer ao senhor das mobílias que não ia estar em casa nesse dia. O senhor fez o que lhe mandaram, foi de férias no dia seguinte e quando regressou ficou à espera que a minha mãe marcasse nova data para a entrega uma vez que nós não tínhamos telefone para ele nos poder telefonar. Assim ficou resolvido o problema da mobília que deixou mais uma marca de mágoa pela forma como nos tratavam. Como o meu pai não arranjava emprego decidiu vender artigos de praia, fios, anéis e brincos e transformou-se em vendedor ambulante, nunca deixando de procurar um emprego que só chegou dois anos depois e que lhe deu a estabilidade financeira que ele tanto desejava e merecia. Eu mudei de escola e fui estudar para o Colégio dos Maristas que nesse ano se tornou uma escola pública e ao contrário da escola anterior nos Maristas, grande parte dos alunos e até dos professores eram retornados e como os rapazes retornados eram lindos cheios de charme, tanto pelo novo vocabulário como pela maneira de andar “merengada” como pela sua maneira de estar muito mais descontraída, acho que as palavras certas para definir os nossos rapazes era, “diferentes em tudo” por isso depressa se tornaram os favoritos das raparigas de cá que tentavam a todo o custo serem nossas amigas tentando até de uma forma um pouco ridícula imitar a nossa maneira de falar usando a nossa gíria, que era muito vasta e que ainda hoje circula por esse Portugal fora, tentando dessa maneira aproximarem-se dos nossos amigos que mais pareciam fruta desejada fora de época, eram devorados pelas miúdas. Nós raparigas também tínhamos uma carrada de fãs mas não lhes achávamos gracinha nenhuma eles eram aquilo que nós em Luanda costumávamos chamar “parolos” mas os nossos meninos deram umas aulas de “bom ar” e ao fim de um ano estavam muito melhor. Aprendi a gostar de Cascais e arredores antes de aprender a gostar de Lisboa, durante muito tempo, Lisboa foi para mim um sítio escuro com pessoas escuras por dentro. Anos depois consegui apreciar a beleza antiga da cidade, o ar romântico do rio e consegui o impensável, sentir orgulho e amor pela história e vida da cidade. Amar Cascais, Lisboa e o meu país não me impede de sonhar nem de sentir que o meu sonho está cada vez mais vivo e firme, um sonho simples mas que se junta à esperança mesmo ao lado da certeza e eu sei que, os três juntos, um dia vão transportar-me até àquele ponto que eu vejo no horizonte e vou chegar a horas de ver o pôr-do-sol, para cumprimentar logo a seguir a lua enorme enquanto me deixo inebriar com o cheiro da minha terra.